Pego carona no artigo “Fim de Festa” do amigo Eduardo Mahon, presidente da Academia Matogrossense de Letras, publicado na imprensa neste final de semana. Aliás, na última sexta-feira estivemos a manhã quase toda confabulando e filosofando acerca de situações, de instituições, de nossas angústias e da própria vida individual e coletiva. Sempre que nos sentamos, filosofamos. Muito agradável.
Voltando ao artigo de Eduardo Mahon, ele fala do fim de um ciclo de gestões onde a realização de grandes obras públicas deixou de ser indicador de bons gestores. Está certíssimo. A sociedade andou muito mais do que as instituições e os gestores públicos. Sem contar os políticos, que ainda estão na Idade da Pedra quando comparados às percepções da sociedade de agora.
Há uma onda de linguagem urgente se construindo dentro da sociedade mundial e na sociedade brasileira. Mais do que os gestores públicos e os políticos conseguem alcançar. Uma ponte, por maior e mais bonita que seja, não sensibiliza mais as pessoas como a dez anos passados. Mas uma creche se compara em prestígio, embora custe 1 milhão e a ponte 30 milhões. As pessoas querem sentir-se contempladas em sua cidadania, embora não saibam como expressar isso de maneira clara, mas deixam transparecer que não se comovem mais com a forma antiquada de gerenciamento dos governos.
Claro que isso não muda em um ou dois anos. Mas começou a mudar e tenho que copiar o pensamento de Lulu Santos: “Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia. Tudo passa. Tudo sempre passará. A vida vem em ondas como um mar num indo e vindo infinito”.
Quem está nos ensinando isso de maneira claríssima é a chamada “nova classe C”, que emergiu co ciclo virtuoso dos anos 1990 em diante. No início, tímida, comprou motos, construiu banheiro em casa, trocou as portas de madeira por portas de ferro, comprou TV de tela plana, depois comprou carro e pôs os filhos na escola. Percebeu que não há futuro fora da educação. Mas encontrou uma educação pública do Afeganistão pros filhos. Uma saúde de Uganda, segurança de uma guerra civil na sua porta, e uma corrupção incalculável. Hoje a classe C está engrossando a corrente dos que querem serviços públicos decentes à altura dos impostos que paga.
Para essas pessoas, a escola, o hospital, a segurança pública e a confiança na gestão e nos gestores, fala mais do que o poder de compra que a encantou no começo. Com ela, a classe B está indignada porque historicamente pagou mais impostos e sustentou as eleições de políticos e de gestores.
Eduardo Mahon está certo. Aquela festa desvairada está acabando pra muita gente. Mas ainda tem muito baile e muito sanfoneiro maluco tocando fora do tom!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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