A eleição de Jair Bolsonaro para a presidência da República e a renovação na composição do Congresso nacional alteraram o cenário político e social do Brasil. Essas mudanças vão influenciar não somente os rumos do país, mas também as pautas do noticiário nacional em 2019. O IMPRENSA conversou com diversos jornalistas para verificar quais temas eles acreditam que serão destaque na cobertura jornalística deste ano. Todos responderam às mesmas quatro perguntas. Foram entrevistados Fátima Sudário, editora-coordenadora do Núcleo de Investigação do jornal O Povo, de Fortaleza, Marcelo Rech, vice-presidente editorial do Grupo RBS, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e vice-presidente Fórum Mundial de Editores, Murilo Garavello, diretor de conteúdo do UOL, Renato Onofre, chefe de reportagem de política do jornal O Estado de S. Paulo, e Thiago Prado, editor-adjunto de política do jornal O Globo.
Na entrevista de hoje, terceira das cinco realizadas, Murilo Garavello ressalta o papel da imprensa na conscientização popular sobre a realidade. "Ajudar o público a separar o que é real do que é falso - desde conteúdo que circula em redes sociais até no discurso dos políticos - e trazer informações para que ele possa ter uma visão mais consciente são imperativos para o jornalismo", afirma.
Garavello fala também sobre os desafios enfrentados na produção de jornalismo de qualidade e comenta que, apesar das mudanças referentes à Lei de Acesso à Informação (LAI), o jornalismo investigativo tem ferramentas para continuar a contribuir com a sociedade.
Que tipo de pauta deverá ter destaque no noticiário em 2019? Questões sobre demarcação de terras indígenas, Amazônia, agrotóxicos e questões de gêneros, segurança etc vão ganhar destaque neste governo? Por quê?
Murilo Garavello - Pautas de muitas áreas vão ganhar destaque na medida em que toma posse um governo que representa uma enorme ruptura de vários vieses e possui ideologias divergentes às dos últimos governos. Provavelmente haverá uma mudança de rumos importante - e isso, naturalmente, vai gerar notícia.
Que tipo de influência tem a mudança de governo nesse sentido?
O novo governo diverge das gestões anteriores em diversos aspectos, além de ter uma relação diferente com o Congresso, com os meios de comunicação e com a sociedade. Por esses fatores, parece ser uma mudança mais radical do que as anteriores.
Acredita que ficará mais difícil do que antes fazer jornalismo investigativo? Por quê?
A mudança na Lei de Acesso à Informação, assinada recentemente, multiplicou o número de autoridades que podem classificar documentos como ultrassecretos. Essa é uma medida que pode reduzir a transparência dos atos governamentais – e consequentemente o acesso da imprensa a dados importantes. Por outro lado, existem muitas ferramentas à disposição dos jornalistas. O jornalismo continuará cumprindo seu papel.
Em um cenário no qual as mídias digitais ganham cada vez mais destaque no processo informacional, quais deverão ser os principais desafios para o jornalismo de qualidade no país?
A rapidíssima circulação de informações, desinformações e boatos é um enorme desafio para o jornalismo. A mentira pura e simples sempre foi uma arma (suja) da disputa política e nunca se espalhou com tanta rapidez e facilidade quanto hoje. Para piorar, informações verificadas e boatos são tratados por parcelas gigantes da população como a mesma coisa. Sendo assim, ajudar o público a separar o que é real do que é falso - desde conteúdo que circula em redes sociais até no discurso dos políticos - e trazer informações para que ele possa ter uma visão mais consciente são imperativos para o jornalismo.
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