Durante quase três anos, o jornalista Helton Costa pesquisou arquivos da Força Expedicionária Brasileira (FEB) e da censura de guerra do Exército. Viajou para a Itália para visitar os lugares por onde passaram os jornalistas brasileiros que cobriram a participação do Brasil na II Guerra Mundial. O resultado está no livro "Crônicas de sangue: jornalistas brasileiros na II Guerra Mundial", publicado pela Editora Motres. Para recuperar essas histórias, Costa conversou com descendentes desses jornalistas, recuperou materiais inéditos e exclusivos e conversou com quase 30 ex-combatentes. O objetivo era não apenas compreender contextos e mentalidades, mas também resgatar a experiência de vida de cada representante da imprensa que foi à Europa registrar esse momento único da história nacional.
"É uma história fascinante, do uso do jornalismo como arma de guerra psicológica para motivar os combatentes e principalmente para tranquilizar e animar quem havia ficado do lado de cá (famílias e amigos). Eles fizeram isso de forma brilhante", diz Costa ao Portal IMPRENSA.
Seu interesse pelo assunto é antigo. Em 2007, jornalismo e II Guerra foi o tema do seu trabalho de conclusão de curso (TCC). A ligação com o meio militar é familiar. Apesar de não ter nem sequer feito o serviço obrigatório, três tataravôs de Costar lutaram na guerra do Paraguai (um ex-escravo e um mulato como Voluntários da Pátria e, outro, pelo Paraguai), um tio-avô defendeu Getúlio Vargas contra os paulistas e seu pai e tios foram policiais. "De certa forma, mantive a linhagem", brinca o autor.
Nesta entrevista, Costa fala sobre os desafios de produzir o livro:
Como surgiu a ideia de escrever esse livro?
Faz algum tempo que estudo a participação do Brasil na II Guerra. Quando fiz a faculdade, meu TCC, em 2007, foi sobre Jornalismo e II Guerra. Alguns anos depois pesquisei sobre os soldados do meu estado de origem, o Mato Grosso do Sul, dentro do conflito e agora, após anos juntando fragmentos sobre nossos correspondentes, finalmente creio ter chegado a algo apresentável ao grande público, sobre a atuação dos nossos jornalistas naquele conflito.
Quanto tempo levou para concluir a obra?
Entre juntar tudo e começar a escrever, quase três anos. Pesquisei arquivos da FEB, da censura de guerra do Exército, fui até a Itália conhecer os lugares em que eles passaram e moraram por alguns meses e comparei as bibliografias sobre o tema, bem como os livros escritos por alguns deles. Também localizei filhos e netos dos jornalistas. Essa parte de contextualizar o que eles escreveram, com a guerra em si, deu mais trabalho. Tive que aprender termos militares, a dinâmica da guerra de um modo geral e buscar compreender as mentalidades dos homens daquela época.
Quanto tempo levou para concluir a obra?
Entre juntar tudo e começar a escrever, quase três anos. Pesquisei arquivos da FEB, da censura de guerra do Exército, fui até a Itália conhecer os lugares em que eles passaram e moraram por alguns meses e comparei as bibliografias sobre o tema, bem como os livros escritos por alguns deles. Também localizei filhos e netos dos jornalistas. Essa parte de contextualizar o que eles escreveram, com a guerra em si, deu mais trabalho. Tive que aprender termos militares, a dinâmica da guerra de um modo geral e buscar compreender as mentalidades dos homens daquela época.
Quais as principais dificuldades que enfrentou para escrever seu livro?
A falta de centralização da memória referente à FEB. O Exército faz um bom trabalho no seu centro de documentação no Rio de Janeiro, mas, ainda tem muita coisa espalhada nas mãos de familiares, colecionadores e instituições e museus dispersos. Isso dificulta para o pesquisador. O Arquivo Nacional também foi essencial. Depender de recursos para fazer pesquisas em nosso país, não é fácil, ainda mais quando se está de fora dos grandes centros. Tive que economizar e me virar para me bancar. Foi um sacrifício que tive que fazer, mas, vejo como uma forma de poder devolver para a sociedade um pouco do que eles investiram em mim, afinal, sou egresso da escola pública, fui de uma das primeiras turmas do ProUni no país e ainda fiz mestrado e pós-doutorado em universidades públicas.
Que tipo de dados, informações ou histórias acredita deverão chamar mais a atenção do leitor?
A história começa com a proibição deles partirem para a guerra e depois autorizados e sendo atendidos com uma baita má vontade pelos oficiais na Itália. Porém, há uma reviravolta e após um jantar com o comandante da FEB, general Mascarenhas de Moraes, tudo melhora e eles ganham carta branca para andar pelo front sempre que possível. Daí em diante, o leitor começa a andar junto deles pelos caminhos da guerra. É legal ver o Rubem Braga, o Joel Silveira, o Egydio Squeff e os demais correspondentes correndo atrás de notícias e estando como testemunhas de batalhas importantes, como Monte Castelo, Montese, Castelnuovo e mesmo na rendição alemã, quando mais de 14 mil soldados inimigos foram cercados e obrigados a se render incondicionalmente aos brasileiros. Rubem Braga foi ferido, Raul Brandão também e, de forma tão séria, que levou as sequelas pelo resto da vida.
O Joel Silveira amadureceu nessa guerra. Ele escreveu que perdeu o resto da mocidade que lhe restava. Achei fotos inéditas deles por lá e fiz um breve perfil do pós-guerra de cada um. Creio que é uma leitura interessante para quem gosta de temas militares e jornalísticos e também para quem gosta de uma boa história de guerra. Para nossa profissão, foi um momento de ouro, onde demos nossos melhores jornalistas para combater o nazifascismo. Vencemos e fomos peças importantes no esforço de guerra brasileiro.
Joel Costa dedicou três anos às pesquisas para escrever seu livro
LEGENDA: Em pé da esquerda para a direita: Rubem Braga (Diário Carioca), Frank Norall (coordenação de assuntos interamericanos), Thassilo Mitke (Agência Nacional), Henry Bagley (Associated Press), Raul Brandão (Correio da Manhã) e Horácio Gusmão Coelho (Agência Nacional). Embaixo: Allan Fisher (coordenação de assuntos interamericanos), Joel Silveira (Diários Associados), Egydio Squeff (O Globo) e Fernando Stamato (Agência Nacional).
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