O
pacote de infraestrutura anunciado ontem pela presidente Dilma Rousseff
recoloca o país numa rota da qual ele tinha sido desviado. Ao longo dos
últimos nove anos, as gestões petistas optaram por um caminho
acidentado e cheio de buracos, um modelo depauperado que não chegou a
lugar nenhum. Renderam-se agora, finalmente, às privatizações,
alternativa que a oposição jamais deixou de defender.
A
opção por privatizar 7,5 mil km de rodovias e 10 mil km de ferrovias
atesta o fracasso do modelo aplicado pelo PT, que monopolizou no Estado a
atribuição de fazer deslanchar a melhoria da infraestrutura do país. A
opção petista não deu certo; seu único resultado foi fazer o país perder
anos patinando sem sair do lugar.
É
possível fazer uma série de cálculos e usar exemplos de todos os tipos
para ilustrar a paralisia a que o PT guiou a infraestrutura no Brasil.
Mas, para simplificar, basta ater-se ao que vem ocorrendo sob o comando
de Dilma. Os investimentos do Dnit caíram 35% no primeiro semestre e os
da Valec são hoje menos da metade do que eram dois anos atrás. (Os dois
órgãos, não custa lembrar, vinham funcionando como verdadeiros antros de
falcatruas.)
Trata-se
de uma espécie de custo PT: a sobrecarga que o dogma ideológico - e
eleitoralmente oportunista - do partido de Lula e Dilma impôs à
sociedade brasileira em termos de ineficiência, desconforto e atrasos na
nossa infraestrutura. Com base nele, o país foi conduzido a um beco sem
saída, do qual, agora, as privatizações vêm nos resgatar.
O
PT até tentou improvisar, alegando que inventara, por exemplo, um novo
jeito de cuidar das nossas rodovias sem que isso custasse muito aos
usuários. Mas o modelo das concessões com pedágios a preço de banana,
lançado por Lula em 2007, foi retumbante fiasco, como mostrou ontem a Folha de S.Paulo, e não freou a deterioração da nossa malha rodoviária.
Naquela
ocasião, foram privatizados sete trechos, transferindo para
concessionários a incumbência, entre outros, de investir R$ 1,2 bilhão
(em valores atualizados) em duplicação e construção de novas estradas.
As obras deveriam estar prontas em 2013, mas, passados quatro anos da
assinatura dos contratos, cinco dos oito grandes projetos nem começaram e
somente 10% dos investimentos previstos foram efetuados.
Com
os aeroportos foi pior. Depois de anos de caos aéreo, o governo do PT
ainda demorou uma eternidade antes de curvar-se à alternativa das
concessões, modelo testado e aprovado em todo o mundo. Só a ameaça de
travar o país na Copa do Mundo, que ainda é real, fez a gestão Dilma
repassar três terminais (Guarulhos, Brasília e Viracopos) à exploração
privada neste ano. Mas nada de obras, ainda.
A
tardia conversão nos aeroportos deu-se à base de tanto improviso que,
agora, teme-se que os novos concessionários, assim como ocorreu nas
rodovias, não tenham condições de honrar os contratos. Afora isso, o
modelo preservou a ineficiente Infraero com participação expressiva em
todos os consórcios. Sem falar que somente três aeroportos já foram
concedidos - os das demais nove cidades-sede da Copa continuam
aguardando.
Em
relação às ferrovias, o novo modelo centraliza riscos na Valec - aquela
do Doutor Juquinha... Uma melhor regulação poderia resultar no
desejável aumento da nossa malha ferroviária, mas optou-se por um
sistema em que a estatal leiloará direitos de passagem e assumirá,
inclusive, a possibilidade de prejuízos em caso de baixa demanda. Não
parece eficiente, nem suficientemente simples, para expandir este modal
tanto quanto um país continental como o Brasil necessita.
O
governo promete tirar do papel R$ 133 bilhões - valor ainda modesto em
percentual do PIB - em obras nos próximos 25 anos. Muitos dos
empreendimentos agora colocados nas mãos da iniciativa privada gramaram
anos nas planilhas e apresentações em powerpoint do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC) sem sair do lugar. É o caso do Ferroanel
de São Paulo e das concessões das rodovias BR-040 e BR-116, por
exemplo, previstas desde 2008, como mostra O Globo.
Nas
próximas semanas, o governo promete anunciar sua estratégia para os
investimentos necessários à modernização e à ampliação de portos,
aeroportos e hidrovias, que serão desatolados do PAC e repassados à
iniciativa privada, incluindo também a possibilidade de parcerias
público-privadas. É esperar para ver.
Quando
foi lançado como o primeiro candidato a presidente da República pelo
PSDB, em 1988, Mario Covas propôs um "choque de capitalismo" para fazer o
Brasil avançar. No governo Fernando Henrique, muito do que Covas
defendeu foi feito, principalmente nas telecomunicações e na criação das
agências reguladoras. A tudo isso, o PT se opôs - no caso dos órgãos de
regulação, foi além: desmontou-os.
Foram
necessários anos de equívocos para que o partido de Lula e Dilma
revisasse suas posições. Não tem problema: a conversão, ainda que
tardia, ao modelo das privatizações é bem-vinda. A população agradece se
a atual gestão conseguir, pelo menos, honrar o que foi prometido ontem.
Será uma forma de compensar parte dos atrasos a que fomos submetidos
pela teimosia do PT em não ver o óbvio e em insistir, por décadas, no
que não dá certo.
Instituto Teotônio Vilela
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