A discussão sobre o foco da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira se voltar para a construtora Delta e o uso de empresas fantasmas para desviar recursos de contratos públicos aconteceu durante o depoimento de Roseli Pantoja. A comerciante disse que nunca viu Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, nem conhece as demais pessoas apontadas como integrantes da organização do contraventor investigada pela comissão.
Roseli alegou também não ter carro nem casa própria e estar com "nome negativo na praça", o que seria uma prova de não haver tido acesso aos recursos dos contratos investigados pela CPMI. Ela corrigiu a grafia do seu nome, que termina com “i”, e não com “y”, como estava nos inquéritos da Polícia Federal. E também disse que o CPF apontado na documentação da CPMI não é o dela, e o nome da mãe dela também é diferente.
"A fala dela mostra o nível de complexidade dessa organização criminosa", disse o relator da CPMI, deputado Odair Cunha (PT-MG). Roseli é apontada como sócia da empresa Alberto & Pantoja Construções e de outras cinco empresas utilizadas pelo esquema de Cachoeira. Ela disse que não conhece nenhuma dessas empresas.
Ela afirmou que, há cerca de um ano, deu uma procuração para o ex-marido, o contador Gilmar Carvalho Moraes, abrir sua empresa, que é uma loja de itens de rock na Feira dos Importados de Brasília. Entretanto, o relator afirmou que a Alberto & Pantoja foi aberta em 2010. O ex-marido deverá ser convocado a depor.
Roseli foi casada por 13 anos com o contador. Eles se separaram há dez meses, e a procuração para ele abrir a empresa foi um dos motivos para o fim do relacionamento. O ex-marido teria aberto também uma conta no nome dela e emitido vários cheques sem fundo, além de ter feito um empréstimo que não pagou.
Segundo a Polícia Federal, a Alberto & Pantoja é uma empresa de fachada integrante do esquema criminoso montado pelo contraventor Carlinhos Cachoeira, utilizada para triangular pagamentos ilegais da construtora Delta. Assim como a Brava Construções, ela tem endereço fictício - um prédio numa cidade-satélite de Brasília onde funciona uma oficina mecânica.
Silêncio
Alexandra Martins

Hillner Braga, ex-segurança do ex-senador Demóstenes Torres, obteve habeas corpus do STF e nada falou.
Os outros dois depoentes do dia evocaram o direito constitucional de permanecerem em silêncio para não se incriminarem. Os dois foram dispensados pelo vice-presidente da CPMI, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que exerceu a presidência dos trabalhos.
O ex-segurança do ex-senador Demóstenes Torres (GO), Hillner Braga Ananias, obteve habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo o autor do pedido de convocação, senador Pedro Taques (PDT-MT), as escutas telefônicas indicam que Ananias tinha como hábito ir à casa de Cachoeira pegar dinheiro em espécie.
Já o ex-presidente do Departamento de Trânsito (Detran) de Goiás Edivaldo Cardoso de Paula conseguiu salvo-conduto do STF para não ter o compromisso de dizer a verdade nem o risco de responder por falso testemunho.
Alexandra Martins

Edivaldo Cardoso (E), ex-presidente do Detran-GO, conseguiu salvo-conduto para permanecer calado.
Taques criticou a decisão do STF. "O Supremo, com essa decisão, diz que praticamos ameaça aos depoentes", afirmou. Segundo ele, o salvo-conduto só deveria ocorrer quando uma autoridade pode ofender a liberdade do cidadão ou ameaça de ofensa o cidadão, o que não seria o caso na CPMI, que respeita a Constituição.
Edivaldo aparece em gravações da Polícia Federal garantindo o repasse de verbas do governo estadual para uma das empresas de Cachoeira. Além disso, existe a suspeita de que tenha sido indicado para o cargo pelo contraventor.
Reportagem – Tiago Miranda
Edição – Newton Araújo
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