Esta é uma semana decisiva para
o julgamento do mensalão. Entre os aspectos que estarão no centro das atenções
nos próximos dias está a origem pública do dinheiro surrupiado para comprar
apoio parlamentar. Certamente por esta razão, os defensores da "sofisticada
organização criminosa" resolveram mostrar os dentes e estão tentando,
desesperadamente, melar o jogo.
Na semana passada, os primeiros
dos 37 réus - entre eles o deputado João Paulo Cunha, atual candidato do PT à
prefeitura de Osasco - tiveram sua condenação pedida pelo relator, ministro
Joaquim Barbosa. Seus crimes: peculato, corrupção e lavagem de dinheiro. Marcos
Valério e dois de seus sócios na agência de publicidade SMP&B também tiveram
a condenação recomendada.
Mas o que causou mais celeuma nos
últimos dias foi a decisão, proposta por Barbosa e acatada pelo presidente do
Supremo Tribunal Federal, ministro Ayres Britto, de apreciar o caso em blocos.
Assim, a corte irá se manifestar sobre o destino dos réus à medida que os casos
forem sendo analisados pelo relator. Trata-se de procedimento "mais
racional", na avaliação de Celso de Mello, o decano do STF.
Mas não é isso, claro, o que
pensam os defensores dos mensaleiros. Como o chamado "fatiamento" do julgamento
é polêmico, e opõe entre si alguns ministros do Supremo, eles viram aí uma
brecha para, mais uma ver, tentar turvar o ambiente. Juntos, apresentarão hoje
aos ministros uma petição de protesto, cujo teor O
Estado de S.Paulo adianta, em manchete. Também não descartam espernear
junto à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Mais uma vez, o cabeça da
ofensiva é o advogado Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça de Lula e
artífice da tese-mãe de defesa abraçada por todos os mensaleiros e seus patrocinadores:
a de que o gigantesco esquema que objetivava desviar R$ 1 bilhão dos cofres
públicos nada mais foi do que um delito "menor", de "mero" caixa dois
eleitoral.
Bastos e mais cerca de 20
advogados dos mensaleiros argumentam que apreciar o caso do mensalão por
blocos, como defende Barbosa, representa uma "verdadeira aberração". Eles dizem
preferir que o caso seja avaliado em sua inteireza por cada um dos 11 ministros.
Neste desenho, Ricardo
Lewandowski, por exemplo, discorreria, lentamente, sobre suas anunciadas 1.400
páginas de voto, por horas ou dias. E assim sucessivamente. Só ao final deste
enfadonho procedimento seriam conhecidas as deliberações dos ministros sobre o
destino de cada um dos réus. Uma boa parte da sessão de hoje no STF deve ser
consumida nesta bizantina discussão.
O modelo proposto por Joaquim
Barbosa tem o condão de tornar o julgamento do mensalão mais objetivo e até
mesmo didático para a sociedade. Um caso é apresentado e, imediatamente, os
demais ministros passam a se manifestar sobre ele. Ao final, tem-se um
veredicto e passa-se ao assunto seguinte. Simples, racional e totalmente
conforme os preceitos legais.
Respeitada esta dinâmica, tão
logo os demais ministros se manifestem sobre a condenação de João Paulo Cunha,
Valério e seus sócios, pedida pelo relator, o próximo item a entrar em
discussão será, justamente, avaliar se o dinheiro usado para financiar o
mensalão veio de fontes públicas. Trata-se do coração do processo.
Alguns ministros já se manifestaram
a respeito. Parece fora de questão que os milhões que abasteceram o valerioduto
e irrigaram o bolso de parlamentares que davam sustentação ao governo Lula e ao
projeto do PT de perpetuação no poder foram subtraídos de cofres públicos, mais
especificamente do Banco do Brasil, por meio da Visanet.
"Esse dinheiro, para fins
penais, oriundo de uma economia mista, é público, inclusive para efeito de
controle. E o dinheiro público não se despubliciza, não se metamorfoseia em
privado pelo fato de ser injetado numa pessoa jurídica totalmente privada, como
é a Visanet. O dinheiro continua público a despeito de sua movimentação por uma
empresa privada", disse o ministro Ayres Britto, hoje presidente do STF, em
agosto de 2007, quando o tribunal aceitou a denúncia feita pela
Procuradoria-Geral da República sobre o mensalão, conforme recorda O
Globo.
Já eram favas contadas que os
defensores dos mensaleiros, todos contratados à base de cifras milionárias,
fariam de tudo para evitar o acerto de conta de seus clientes com a Justiça. É
do jogo. Mas a sociedade está mais atenta do que nunca para impedir que os
advogados da quadrilha que depenou o erário consigam livrar a cara dos acusados
do maior esquema de desvio de dinheiro público que se tem notícia na história
brasileira. Basta de desvios. Que o julgamento siga seu curso.
Instituto Teotônio Vilela
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