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segunda-feira, 8 de setembro de 2014

"Uma fila que não anda"

É injustificável a lentidão com que tramita a ratificação de acordos internacionais no país. Os últimos números do Itamaraty apontam uma fila de 313 tratados assinados pelo Brasil ainda sem aval do Legislativo. Muitos deles negociados há mais de uma década, como a Convenção nº 158, de 1982, da Organização Internacional de Trabalho (OIT), ou a convenção sobre direitos dos trabalhadores migrantes adotada pelas Nações Unidas em 1990!

É, no mínimo, incoerente que um país que tanto luta por protagonismo no cenário internacional seja tão negligente em relação à ratificação de acordos bilaterais ou multilaterais. 

Acordos que, em princípio, são negociados não por um ou outro governo, mas pelo Estado brasileiro.

O Ministério das Relações Exteriores é o primeiro a travar a tramitação dos tratados internacionais. Seja por burocracia, seja por zelo excessivo, não importa. Nada justifica que um tratado demore meses ou até anos a fio para sair do Itamaraty, passar pela Casa Civil e chegar ao Congresso Nacional.
É o caso do tratado de extradição firmado entre Brasil e China em 2004. Foram quatro anos até que o documento chegasse ao Parlamento. Depois, outros seis para que, enfim, fosse aprovado pela Câmara dos Deputados. Às vésperas da visita do presidente chinês, Xi Jinping, ao Brasil, o tratado acabou aprovado a toque de caixa no Senado, menos de duas semanas depois de ter chegado à Casa.

No fim do ano passado, a visita do presidente francês, François Hollande, também precipitou uma corrida para a aprovação de um acordo bilateral que se arrastava há anos entre Executivo e Câmara dos Deputados. O acordo de combate ao garimpo ilegal de ouro na fronteira entre a Guiana Francesa e o estado do Amapá havia sido assinado em 2008 pelos dois países. Sem a visita do presidente Hollande, provavelmente ainda estaria pendente de ratificação.

Outro caso que chama a atenção é o tratado internacional que impõe limites à venda de armas convencionais — de armas leves a mísseis e tanques de guerra. Esse é um tratado histórico, cuja aprovação por maioria esmagadora na Assembleia Geral das Nações Unidas, em abril de 2013, foi aplaudida por organizações de direitos humanos e de controle de armas no mundo inteiro. 
O Brasil foi um dos maiores defensores do tratado de comércio de armas. Aliás, foi o primeiro país a assiná-lo. Mas, um ano e dois meses depois, o documento ainda nem saiu do Executivo. 

No Parlamento, o caminho de um tratado internacional também é longo. No Senado, nem tanto, porque os processos são distribuídos apenas à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional e a espera para inclusão na pauta do plenário não pode, pelo regimento, passar de 30 dias.

Na Câmara, no entanto, acordos internacionais precisam passar não só pela Comissão de Relações Exteriores, como pela Comissão de Constituição e Justiça, por comissões temáticas e pela Comissão de Finanças e Tributação, quando há repercussão financeira para o Estado brasileiro. 

Foi para abreviar esse rito que o Senado aprovou, no último dia 5, o regime de urgência para tramitação de tratados internacionais. A proposta de emenda constitucional, que ainda tem que passar pela Câmara, é um avanço, embora não resolva de vez a questão. 

Uma solução definitiva exige interesse público e vontade política. Exige, acima de tudo, a clareza de que acordos bilaterais e multilaterais são vitais num mundo em que a cooperação tecnológica, comercial e científica é cada vez mais dinâmica. E em que a integração e o respeito às normas internacionais são regras básicas para quem almeja ter voz forte num cenário globalizado.

Ricardo Ferraço
Senador pelo PMDB do Espírito Santo e presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal

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