As eleições, por piores que possam eventualmente parecer em alguns momentos, ainda são o melhor caminho para transformar as relações de poder da sociedade consigo mesma e com o chamado Estado que gere o governo. As eleições de 2014 foram extremamente didáticas. O Brasil saiu maior do que entrou, justamente porque consolidou a existência de um inconsciente coletivo meio adormecido, meio acordado desde as manifestações de 2013.
Em recente seminário na Fundação Dom Cabral, em Belo Horizonte, ouvi de um professor que os movimentos de 2013 mudaram os valores do país. Confesso que duvidei. As eleições deste ano mostraram uma sociedade nascendo do meio das cinzas. Há quem critique as mídias sociais e as posições radicais veiculadas. Isso é só meia verdade. Houve militância política no segundo turno ao nível do exagero. Mas houve também manifestações de consciência lúcida, informativa e reflexiva em larga escala. Isso não havia antes. Recebi centenas de memes políticos. Muita coisa excelente e muita porcaria. A questão é selecionar e aproveitar o que fosse bom. Ri muito de algumas postagens bem humoradas e me irritei com outras primárias e burras.
Se o eleito tivesse sido o candidato Aecio Neves ele assumiria o governo do país carregando uma carga enorme do inconsciente coletivo esperando dele uma gestão nacional e não uma gestão do PSDB. A mesma coisa acontecerá com a presidente Dilma. Ela chega ao segundo mandato pressionada pelo mesmo inconsciente coletivo que vai cobrar-lhe as mudanças despejadas nas ruas em 2013 pelo desejo popular. Não será um governo do Partido dos Trabalhadores como foi esse mandato que se encerra.
Imediatamente à vitória, o mercado financeiro acenou pela segurança jurídica na economia, no lugar do império conduzido pela presidente Dilma presa da ideologia do seu partido. A reforma política que mudará todo o sistema das gestões públicas, a educação e a saúde que foram temas da primeira hora na campanha, a reforma tributária já não pertencem somente à agenda dela e nem das crenças do seu partido.
A governabilidade do país será questionada todo o tempo tanto pelas redes sociais como pelo sentimento coletivo de mudanças que pressionará as omissas universidades públicas, os partidos políticos e o mau-comportado Congresso Nacional brasileiros. Por isso, a eleição foi boa. Pelo que fez acordar, e pelo que fará pra manter acordado esse sonolento território chamado Brasil, tão confortável no seu “berço esplêndido”.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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