Escrevi o artigo “Momento civilizatório” neste espaço na última sexta-feira e, curiosamente, recebi alguns ataques pessoais agressivos, e não críticas no campo das idéias. Faz parte do momento in-civilizatório que ainda vivemos, marcado pelos radicalismos ideológicos de uma esquerda quer morre agonizando no imenso campo de batalha das próprias contradições.
Confesso que a mim pouco interessam as ideologias e creio que a maioria da população brasileira olha o Estado apenas como algoz cobrador impiedoso de impostos e estelionatário em relação aos serviços públicos que não devolve aos cidadãos.
Nesta semana que passou o Forum Nacional de Segurança Pública divulgou que uma pessoa morre a cada dez minutos no Brasil. Já não causa mais indignação na sociedade, porque banalizou. Tudo que banaliza acaba se incorporando à paisagem e cai em exclamações indiferentes do tipo “outro assassinato?”.
Visto de cima, o Brasil tornou-se um campo de batalha onde se digladiam polícias desaparelhadas, desmotivadas e governos incapazes. De outro, um exército que se renova a cada momento substituindo “soldados” mortos por soldados ansiosos por um pouco de espaço e por dinheiro pra ter visibilidade no seu meio social. Entre o Estado e os exércitos lutadores de rua, estão o tráfico de drogas, de armas, a corrupção política, a corrupção policial, os negócios públicos sujos em torno da segurança pública, como construção de presídios, compras de viaturas, de armas, de fardas, alimentação nos presídios, etc.etc.
Na semana que passou um assaltante de postos de gasolina preso em Cuiabá, queixava-se ao advogado: “doutor, eu só roubei 3 mil do posto. E esses políticos que roubam milhões e não são presos. O senhor tem que me tirar daqui. Sou inocente”. O advogado me contou. De novo a banalização na sua pior forma: a corrupção dos princípios da convivência social. Faz parecer normal o que não é normal.
Reconstruir um ambiente de pacificação nacional será uma tarefa longa e difícil. Nenhuma reconstrução é fácil, porque terá que se reconstruir os valores sociais, os valores institucionais como o político, o executivo e o judiciário, amplamente corrompidos ou indiferentes.
Tempos difíceis nos aguardam.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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