No Dia Nacional da Consciência Negra, sessão especial marcou a entrega da Comenda Abdias Nascimento a sete personalidades que se destacaram na luta contra o racismo.
Um dos homenageados, o cantor e compositor Martinho da Vila, cantou a música no encerramento da sessão. Antes, saudou a iniciativa.“Valeu, Zumbi! O grito forte dos Palmares. Que correu terra, céus e mares. Influenciando a abolição.” Os versos da canção Kizomba, Festa da Raça deram o tom de sessão especial que marcou a entrega da Comenda Abdias Nascimento, na primeira edição. O evento ocorreu na manhã de ontem, Dia da Consciência Negra, no Plenário do Senado: sete personalidades foram agraciadas por terem se destacado na promoção da cultura afro-brasileira.
O Senado dá hoje um grande passo na direção da erradicação do racismo. Sonho com o dia em que não haverá a necessidade de movimento negro no Brasil — afirmou.
Além de Martinho, foram homenageados o ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ); o também músico Gilberto Gil; a militante do movimento negro Edna Almeida Lourenço, conhecida como Ekdje Edna de Oiyá; o ator Milton Gonçalves; o professor Silvio Humberto dos Passos Cunha, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia; e, in memoriam, o pescador Francisco José do Nascimento (1839–1914), o Dragão do Mar, famoso pela luta abolicionista no Ceará.
Que essa homenagem sirva de reflexão sobre o preconceito racial que persiste no país e que seja também um incentivo para construírmos um país mais justo e mais humano — disse o presidente do Senado, Renan Calheiros.
Gilberto Gil foi representado por Grace Passos Stefanini, assessora dele e ex-chefe de gabinete no Ministério da Cultura. Milton Gonçalves, por Eloi Ferreira de Araujo, ex-ministro-chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Francisco José do Nascimento, único já falecido entre os condecorados, foi representado por Paulo Victor Gomes Feitosa, secretário-adjunto da Cultura do Ceará.
A data (20 de novembro) faz referência à morte de Zumbi, em 1695, o então líder do Quilombo dos Palmares — entre Alagoas e Pernambuco. Zumbi é considerado um ícone da luta pela igualdade racial.
Um dos idealizadores da comenda, Paulo Paim (PT-RS), saudou a memória de Abdias Nascimento (1914–2011). Abdias foi senador e deputado federal pelo Rio de Janeiro, jornalista e militante do movimento negro. Esteve à frente de projetos pioneiros na luta pela igualdade racial no país, como o Teatro Experimental do Negro e o jornal Quilombo.
Paim citou alguns avanços no combate ao preconceito e na valorização do negro, como a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e da Lei de Cotas, mas lamentou a desigualdade ainda existente no mercado de trabalho e o alarmante índice de jovens negros assassinados.
Apelo a todos as autoridades para unir forças para acabar com o genocídio da juventude negra. Morrem quase três vezes mais negros do que não negros — afirmou.
A violência contra jovens negros também marcou o discurso da outra idealizadora do prêmio, Lídice da Mata (PSB-BA). Ela disse que o país parece enfrentar um retrocesso nos direitos humanos, com os crescentes casos de injúria racial no futebol, intolerância contra religiões de matriz africana e assassinatos de negros.
Persistem as consequências trágicas do mais longo período de escravidão da história moderna — disse a senadora, sugerindo criação de uma CPI sobre o genocídio de jovens negros.
Viúva de Abdias, a professora Elisa Larkin Nascimento disse ser importante a criação de um fundo nacional da igualdade racial.
Também estiveram presentes ao evento a ministra da Seppir, Luiza Bairros; os senadores José Pimentel (PT-CE) e José Agripino (DEM-RN), o embaixador da África do Sul no Brasil, Mphakama Mbete; e a ministra interina da Cultura, Ana Cristina Wanzeler, entre outras autoridades.— É necessário que recursos já contemplados pelo estatuto, mas que não chegam a ser empenhados no Orçamento, sejam dirigidos para lutar contra o genocídio de jovens negros — disse Elisa.
A comenda foi instituída em novembro de 2013, pela Resolução 47, oriunda de projeto de Lídice e Paim. A escolha é feita por um conselho formado por representantes de todas as bancadas do Senado. Os nomes podem ser indicados por senadores, deputados federais e entidades nacionais que atuam pela proteção e promoção da cultura afro-brasileira.
Nasceu em 30 de janeiro de 1954, no Rio de Janeiro. É formado em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e se especializou em direito processual civil. Desembargador federal desde 1988, assumiu o cargo de ministro do Superior Tribunal de Justiça em 2008.
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Francisco José do Nascimento (Aracati-CE, 15 de abril de 1839 — Fortaleza, 5 de março de 1914) é considerado um expoente na luta abolicionista. O Dragão do Mar, como ficou conhecido, ajudou na libertação de escravos na então província do Ceará, em 25 de março de 1884, quatro anos antes da Lei Áurea.
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Martinho da Vila
Martinho José Ferreira nasceu em 12 de fevereiro de 1938 em Duas Barras (RJ). Foi o primeiro sambista a ultrapassar a marca de 1 milhão de cópias vendidas. É presidente de honra da escola de samba Vila Isabel.
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Edna Almeida Lourenço
Natural de Campinas (SP), onde nasceu em 13 de novembro de 1951, Edna é conhecida como Ekdje Edna de Oiyá. É militante do movimento negro e fundadora da Coordenação do Grupo Força da Raça.
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Milton Gonçalves
O ator e escritor nasceu em Monte Santo de Minas (MG) em 9 de dezembro de 1933. Com mais de 70 filmes e
80 novelas no currículo, é também conhecido militante do movimento negro. |
Gilberto Passos Gil Moreira nasceu em 26 de junho de 1942, em Salvador. O compositor, cantor, multi-instrumentista, político, escritor, ambientalista e empresário já recebeu inúmeros prêmios, incluindo o Grammy Latino. Foi também ministro da Cultura.
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Nasceu em Salvador. É doutor em economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (BA) e fundador do Instituto Cultural Steve Biko, que atua na valorização da comunidade negra.
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