Até o governo Jaime Campos (1990-1994), migrantes não tiveram espaços nas gestões estaduais. Em 1994 Dante de Oliveira elegeu-se governador e passou os primeiros quatro anos da gestão envolvido com a gigantesca tarefa de reorganizar o Estado, o chamado ajuste fiscal. Mas a sua reeleição em 1998 já trouxe o produtor rural de Rondonópolis, Rogério Sales, como seu vice. Assumiu o fim do mandato em 2002. Já na eleição seguinte surgiu o produtor Blairo Maggi, originariamente gaúcho e produtor rural, também de Rondonópolis, mas com negócios em diversos municípios. A partir de Blairo o poder político antes restrito a Cuiabá definitivamente espalhou-se pelo estado, dando importância a Rondonópolis, Alta Floresta, Sorriso, Barra do Garças, principalmente.
Importante registrar isso, porque de 2002 em diante a política mato-grossense incorporou definitivamente os “olhos azuis” a que se referira o professor Nelson Pinheiro, do IBGE, no distante censo de 1980, o primeiro, depois do estado dividido. Até a década de 1980 o poder político estava concentrado em Cuiabá, em torno da máquina pública. Fora dali, estava amarrado na velha pecuária pantaneira que tinha o seu braço preso na capital ou no Sul do velho Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul. A partir de 1980, junto com a agricultura as pastagens formadas no cerrado tiraram na riqueza pecuária pantaneira a matriz do seu poder político. O Pantanal empobreceu e nunca mais recuperou o seu poder econômico ou político.
O fato é que a partir de Blairo Maggi, de 2003 em diante, a política estadual perdeu domicílio cuiabano ou pantaneiro. Cada vez mais está se espalhando por regiões do agronegócio ou de cidades como Rondonópolis e Sinop, que se firmam como cidades-pólos de serviços. Sendo assim, não se poderá nos próximos anos se falar em política e em poder político com domicílio registrado e sem levar em conta a participação crescente do pessoal de “olhos azuis”. Até porque a nova onda econômica do estado está sob o poder de quem produz grãos e fibras, caminhando para a agro-industrialização. Isso vai gerar cadeias econômicas cada vez mais fortes e concentradas em grupos empresariais e em regiões específicas.
Pedro Taques incorporou-se a essa onda. Tanto que seu vice Carlos Fávaro é do agronegócio. Seu secretariado tem forte presença e participação de setores como a Aprosoja e Famato. Aliás, o agronegócio produziu um documento de alta qualidade chamado “Pensar MT”, que serviu como forte base de consultas na formulação da gestão atual.
O assunto continua.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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