No correr da semana passada tratamos aqui desse tema que envolve as lideranças políticas no país nesta passagem de crises moral, política e econômica. Quando se na atual crise brasileira, a mais graves desses 30 anos, imediatamente se fala da crise moral decorrente da corrupção governamental que teria resultado na crise política e as duas, na crise econômica. Não me parece verdadeiro dessa forma.
O sistema político brasileiro que evoluiu a partir da errática Constituição Federal de 1988, veio aos poucos se prostituindo em favor dos partidos e depois dos políticos que tomaram partidos para si como se fossem capitanias hereditárias. Uma vez apossados dos partidos, a operação da política caminhou para uma construção crescente de interesses nem um pouco representativos dos interesses da sociedade. Como a representação política da sociedade se dá através dos parlamentos e esses representam-na pelo voto, o sistema político corrompido corrompeu também o voto. Logo, o Congresso Nacional não representa a sociedade porque os parlamentares são eleitos pelo poder econômico e não pelo voto desinteressado conquistado em troca da prestação de serviços. O custo das campanhas eleitorais dos parlamentares é bancado por quem tem muitos interesses e vai cobrá-los durante o mandato do parlamentar.
Portanto, como alguém eleito pelo voto pra representar pode ser reconhecido como líder se eleito dessa forma comercial? Além do mais, num ambiente de degradação moral em que se encontra a gestão pública, os líderes políticos terão que construir uma ampla reforma política pra começar a mudança e as transformações. O consenso é de que o Congresso Nacional, que deveria fazer a reforma política, não tem a legitimidade social para isso, até porque todas as chances ele queimou legislando reformas em causa própria.
Difícil construir um projeto de nação nesse ambiente. Então, perguntaria o leitor: tem jeito? Claro que tem. Crises ensinam mais do que deseducam, dissemos aqui recentemente em outro artigo. Seria o caso da sociedade se organizar através dos seus braços sociais como sindicatos, associações, igrejas, instituições de serviço, federações, confederações, universidades (descontaminadas de ideologias travadas), e as pessoas por si mesmas, aqui representadas por profissionais liderais, professores, jornalistas, cidadãos,etc. Desse conjunto nasceriam lideranças menores que aos poucos construiriam lideranças conectadas com a sociedade, nascidas a partir dela. Mas e as atuais lideranças políticas , perguntaria de novo o leitor? Ou, quem sabe, se reciclariam, ou morreriam para dar lugar a gente comprometida com a gente brasileira.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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