Na última quinta-feira à noite jantei na casa do meu neto Miguel Ribeiro, em companhia de amigos. O projeto da reunião era conversar. Muito eclético: jovens e adultos. Fui de carro com o meu filho Tiago Ribeiro, da Carandá Propaganda. Boa música, boas bebidas, boa conversa. Aliás, devo confessar que minha origem mineira adora uma boa prosa. Daquelas sem pauta e sem rumo. Igual macaco, que pula de galho em galho o tempo inteiro. Falamos de tudo.
No final da nossa longa prosa, o amigo Charles Handell, advogado tributarista, levantou uma questão dentro do tópico político de nossa prosa. Ele questionou onde foi que sua geração, hoje na faixa dos 50 anos, falhou e permitiu que o Brasil chegasse ao ponto atual de desconstrução de todos os seus aspectos sociais, políticos, econômicos e de percepção política e alienou completamente a capacidade de ação e reação da sociedade. A prosa se animou de novo. Tomo a liberdade de pedir licença ao leitor pra reconstituir esse ponto da conversa.
Tudo tem um começo. Sem o começo não entenderemos o presente e muito menos a percepção do futuro. Então vamos resgatara o começo, por que nada nasce do acaso. Tudo obedece à lei da física de ação e de reação. Em 1973 o petróleo pulou de 2 para 14 dólares o barril, sem aviso, do dia pra noite. Pegou o país de surpresa, à época do governo do presidente General Emílio Garrastazu Medici. Foi uma imensa sangria comprar petróleo nesse preço, num país de economia muito fraca. Aliás, tirando os EUA o resto do mundo se ferrou. Do dia pra noite grande parte do dinheiro mundial convergiu pra compra de petróleo dos árabes. Esses petrodólares entupiram os bancos dos EUA e da Europa, porque o mundo árabe não tinha estrutura bancária suficiente.
O leitor deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com a nossa classe média alienada? Tem tudo a ver. O excesso de oferta de petrodólares nos bancos ocidentais abriu oportunidade para países tomarem empréstimos. O Brasil tomou à época US$ 22 bilhões usados na construção de rodovias (de Goiânia e de Campo Grande a Rondonópolis e a Cuiabá é um exemplo), universidades (a Federal de Mato Grosso é outro exemplo), portos, aeroportos, hidrelétricas. Bom lembrar que naquele tempo as tecnologias da corrupção ainda eram muito pobres. O dinheiro rendeu. Hoje mal daria pra uma pontezinha mal construída. Esse “boom” de dinheiro e de obras chamou-se “milagre brasileiro”. Foi um tempo de ufanismo, também chamado de “Brasil Grande”.
Esse novo estado econômico mudou completamente os cenários industriais do país, a sociedade, a economia, os negócios e fez emergir uma imensa classe média resultante do trabalho efetivo e não de subsídios oficiais como nesses últimos anos. No próximo, amanhã, o tema será essa nova classe média resultante do “milagre brasileiro” da década de 1970.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
ribeiro.onofre@gmail.com www.onofreribeiro.com.br
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