Encerro essa série de três artigos tentando resgatar os pontos de inflexão onde falhou a classe média brasileira como classe transformadora, efetivamente nascida e multiplicada a partir do “milagre econômico” de 1973 em diante. Seu nascimento torto se deu como dissemos nos dois artigos anteriores a partir da necessidade de ocupação dos espaços de mão-de-obra para homens e mulheres no Brasil que crescia depressa graças aos petrodólares vindos através de empréstimos pelo governo militar junto a bancos europeus e norte-americanos. Ocorre que a migração maciça do mundo rural para o urbano se consolidou nessa mesma onda, e a ida das mães urbanas e rurais pro mercado de trabalho, deixou órfãs as famílias. Especialmente os filhos. Sua educação inicialmente manteve-se na excelente escola pública que havia. Mas ela foi se deteriorando até chegar ao nível atual, o mais baixo da sua história.
A ascensão social dos anos 1970 pegou indistintamente todas as famílias e abriu um mercado de consumo até então desconhecido. Assim, ascensão significou consumo. De lá pra cá, nesses 40 anos a classe média que tinha posição e voz anterior a 1973, morreu de vez. Tem casa, bens, carros, posição social, mas é analfabeta politicamente. Não é capaz de eleger e nem de formar a opinião pública com as suas posições, porque não tem. É a geração desvairada dos shopping centers.
Neste momento em que o Brasil naufraga dentro de si mesmo, seria ótimo se existisse uma classe média capaz de ter voz e sair às ruas, de escrever na mídia, de ser uma sombra ameaçadora para governantes desvairados como os que o Brasil tem tido nesses últimos anos. Mas pra isso precisaria ter posição política, conhecer o seu papel e ser capaz de mobilizar-se.
O pano de fundo dessa calamidade está na educação deficiente que começa a deformar no ensino fundamental e termina na graduação com distorções da ciência aplicadas a ideologias emburrecidas. A educação tem sido utilizada pelos últimos governos como ferramenta ideológica pra a construção de ideais chamados de “democráticos”, porém, caminhando na direção exatamente oposta.
Neste momento está no ar uma esperança de transformação de todos os conceitos públicos e privados. Mas falta a origem da filosofia dessa transformação. Os meios acadêmicos envelheceram e se deixaram seduzir por ideologias da esquerda mais retrógrada. Não há outro útero para gestar novas idéias. Isso fará demorar muito as transformações. Até lá lidaremos com um país deformado e se deformando. A menos que a educação alcançasse os espíritos juvenis. Em todas as classes. Mas a puxadora seria mesmo a alienada classe média.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
ribeiro.onfore@gmail.com www.onforeribeiro.com.br
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