Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso

Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso
Av. André Maggi nº 6, Centro Político Administrativo

Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso

Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso
Av. André Maggi nº 6, Centro Político Administrativo

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

"Agenda do Congresso desafia direitos humanos, afirma Anistia"

Anistia Internacional diz que 2015 foi marcado por retrocesso em relação a temas como segurança pública e direitos sexuais no país. "A democracia está sendo manipulada contra a democracia", afirma diretor-executivo.
Em relatório anual divulgado nesta terça-feira (23/02), a Anistia Internacional (AI) afirma que o ano de 2015 foi marcado por sérios riscos de retrocesso aos direitos humanos no Brasil. Segundo a ONG, a agenda do Congresso dificulta o avanço do tema no país, e entre as áreas mais ameaçadas estão as de segurança pública, dos defensores de direitos humanos no campo e dos direitos sexuais e reprodutivos.
Entre os retrocessos, a organização cita no documento O Estado dos Direitos Humanos no Mundo 2015/2016 a proposta de redução da maioridade penal de 18 para 16 anos; a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215, que transfere para o Legislativo a responsabilidade de demarcar terras indígenas e territórios tradicionais; além do Projeto de Lei (PL 5069/2013), que dificulta o atendimento médico às mulheres vítimas de estupro.
Atualmente, esses projetos se encontram em discussão na Câmara dos Deputados ou no Senado, juntamente com a proposta de revogação do Estatuto do Desarmamento (PL 3722/12), a tipificação do terrorismo (PL 3714/12), que pode ser usada para criminalizar os movimentos sociais; o novo código de mineração (PL 5807/13); e o Estatuto da Família (PL 6583/13).
"A democracia está sendo manipulada contra a democracia", afirma Atila Roque, diretor-executivo da Anistia Internacional no país. "Na ditadura, os atos institucionais legislavam contra as liberdades, mas, neste momento, vemos a Constituição ser manipulada para restringir direitos e marginalizar setores da sociedade."
Homicídios e impunidade
De acordo com o documento, a segurança pública e o alto número de homicídios de jovens negros continuaram entre as maiores preocupações no ano passado. A ONG critica o governo federal por ter prometido, mas ainda não ter apresentado um plano nacional concreto para a redução dos homicídios no Brasil.
Em 2014, mais de 58 mil pessoas foram vítimas de homicídio e mais de 3 mil foram mortas pela polícia – uma alta de 37% em comparação a 2013. Policiais responsáveis por execuções extrajudiciais desfrutaram de quase total de impunidade, denuncia a Anistia.
Nos presídios brasileiros e no sistema de Justiça juvenil, a superlotação extrema, condições degradantes, tortura e violência continuaram sendo problemas endêmicos em 2015. Segundo o relatório, nenhuma medida concreta foi tomada pelas autoridades para acabar com a superlotação e as condições cruéis da penitenciária de Pedrinhas, no Maranhão, por exemplo.

Violência no campo e ameaças aos direitos das mulheres
A violência também aconteceu no campo. A organização documentou casos de assassinatos de lideranças rurais em estados das regiões Nordeste e Norte do país, regularmente associados a interesses de grandes fazendeiros ou empresas. Na maioria das vezes, não teria havido responsabilização dos envolvidos.
A situação, segundo o relatório, é particularmente crítica no Mato Grosso do Sul, onde comunidades indígenas Guarani-Kaiowá estão submetidas a condições extremas de precariedade em relação à posse de suas terras tradicionais e em constante ameaça.
Uma emenda à Constituição que transfere a responsabilidade pela demarcação de terras indígenas do Executivo para o Legislativo, onde a frente de pressão do agronegócio tem grande força, foi aprovada por uma Comissão Especial da Câmara dos Deputados em outubro passado.
Novas leis e emendas constitucionais que estavam sendo debatidas no Congresso representaram uma séria ameaça também aos direitos sexuais e reprodutivos, assim como aos direitos das mulheres. No fim do ano, tramitavam no Congresso Nacional alguns projetos de lei, como o Estatuto do Nascituro, que propunham criminalizar o aborto em todas as circunstâncias.
Outra proposta visava impedir o acesso a abortos seguros e legais no sistema público de saúde, mesmo nos casos atualmente permitidos pela legislação brasileira, como quando a vida da mulher corre risco ou a gravidez resulta de estupro. Se aprovada, a medida também impediria a assistência de emergência para vítimas de estupro.
Retrocesso em países latino-americanos
De acordo com o relatório da Anistia Internacional, uma combinação de discriminação, violência, desigualdade, conflito, insegurança, pobreza, danos ambientais e falta de justiça por violações de direitos humanos ameaçou a proteção dos direitos humanos e as liberdades fundamentais na América Latina em 2015.
Para a organização, apesar de a maioria dos Estados latino-americanos apoiar e ter ratificado as normas e tratados internacionais de direitos humanos, a promessa desses direitos não foi concretizada para milhões de pessoas.
"A não investigação e não responsabilização, e a consequente impunidade de violações de direitos humanos certamente alimentam esse ciclo de violência no campo e na cidade", afirma Renata Neder, assessora de Direitos Humanos da Anistia Internacional no Brasil. "Vemos que, em geral, os Estados não estão reagindo de forma adequada e com a rapidez necessária para enfrentar essas violações."
O relatório diz que as autoridades insistiram em recorrer a respostas militarizadas para enfrentar problemas sociais e econômicos, tais como a crescente influência das redes do crime organizado e o impacto das empresas multinacionais sobre os direitos das pessoas. Ao mesmo tempo, os níveis de violência letal continuavam extremamente altos – oito dos dez países mais violentos do mundo são da América Latina e Caribe.
A organização destaca também a influência crescente de empresas multinacionais e seu envolvimento em abusos referentes a direitos humanos. Isso ocorreria principalmente no setor extrativo e em outros setores relacionados com a apropriação de terras e recursos naturais, sobretudo em territórios pertencentes a povos indígenas, a outras minorias étnicas e a comunidades de agricultores.
Segundo o documento, migrantes e refugiados que atravessaram a América Central e México enfrentaram graves violações de direitos humanos ao tentar entrar nos EUA, e muitas vezes acabaram detidos em condições rigorosas. Além disso, quase 2 mil cidadãos colombianos, inclusive refugiados e pessoas em busca de asilo, foram deportados da Venezuela em agosto passado, sem que tivessem a oportunidade de
contestar a expulsão ou juntar seus pertences.

México, Venezuela, Cuba, Colômbia e Argentina
A organização cita o México por conta das milhares de denúncias de tortura e outros maus-tratos, além de execuções extrajudiciais. Até o final do ano passado, o paradeiro de ao menos 27 mil pessoas continuava desconhecido, inclusive dos 43 estudantes de uma escola rural em Ayotzinapa – considerado, pela ONG, "uma das mais alarmantes violações de direitos humanos da história recente do México".
Na Venezuela, um ano após grandes manifestações contra o governo que deixaram 43 mortos, ninguém foi condenado pelos crimes, enquanto as pessoas detidas de modo arbitrário pelas autoridades continuam sendo processadas, destaca a ONG.
De acordo com o relatório, a situação dos direitos humanos em Cuba está numa "encruzilhada". O ano de 2015 foi marcado pela melhora das relações internacionais e por avanços como a libertação de prisioneiros. Mesmo assim, as autoridades sufocaram a dissidência política, denuncia a Anistia.
"A maior abertura de Cuba tende a levar a uma mudança no regime. O caso do país é diferente, pois quando falamos de violação de direitos humanos falamos sobretudo de violação de direitos políticos", diz o cientista político Leonardo Paz Neves, do Ibmec/RJ. "Nesse sentido, esse elemento distintivo em Cuba tende a melhorar, ainda que não a curtíssimo prazo."
Na Argentina, a AI aponta que denúncias de tortura – que incluíam golpes com aguilhões para gado, semiasfixia com sacos plásticos, submersão e isolamento prolongado – não foram investigadas. Também não existe qualquer sistema de proteção às testemunhas, afirma a ONG.
Na Colômbia, durante as negociações de paz em curso entre o governo e as Farc, ambas as partes cometeram crimes contra o direito internacional e graves violações e abusos dos direitos humanos. Estes teriam tido como alvo principalmente povos indígenas e comunidades de camponeses e afrodescendentes, além de defensores dos direitos humanos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário