Desde o ano 2000 surgiu no cenário mundial dominado pelos Estados Unidos, uma China agressiva com forte e crescente protagonismo internacional. Na sua retaguarda interna 1 bilhão e 400 milhões de chineses pra alimentar. Pior: surgindo como potência industrial, a China viu a renda interna de sua população crescer. Logo, passou a se comer mais na China. De imediato tornou-se dependente de uma segurança alimentar situada fora de suas fronteiras.
Por essa época a maior exportação de soja e milho de Mato Grosso ia para a Holanda que a distribuía na Europa. A China ocupou esse lugar e passou a comprar cada vez mais. Em 2015 um fato novo muito importante: a China autorizou o segundo filho nas famílias desde 1979 presas a um filho só. Deixaram de nascer 400 milhões de chineses nesses 36 anos. Com renda maior e mais filhos nascendo, a China passa a ter necessidade de uma política de segurança alimentar muito mais delicada. Até recentemente, a China tinha traçado a estratégia de importar o máximo de commodities do mundo inteiro e processá-las internamente gerando tecnologia, empregos, impostos e comércio exterior.
Porém, em 2015 mudou-se essa estratégia. O país fará muitas joint-ventures com empresas de outros países, vai investir em logística nesses países. Mas por detrás, a verdadeira mudança de política. Em vez de importar milho, soja e carne, que é o caso de Mato Grosso, a China vai fazer uma reviravolta. Comprará plantas industriais em Mato Grosso, comprará fazendas produtoras de grãos, de algodão, de pecuária ou se associará com elas aproveitando as suas expertises já consolidadas.
No segundo momento constrói infraestrutura, especialmente, ferrovias. Em vez de comprar grãos em Mato Grosso, industrializa-os aqui e exporta a matéria-prima com valor agregado. A idéia é simples: aumenta a renda dos habitantes nessas regiões pra criar um forte mercado de consumo. Em seguida, os mesmos trens que levam a matéria-prima agregada de valor, trazem produtos industriais da China pra esse comércio regional. O ganho é duplo. Tanto na produção, processamento e a exportação como na venda de produtos chineses industrializados lá.
A ferrovia bioceânica que liga os oceanos Pácifico e Atlântico, cortando Mato Grosso Leste-Oeste já está dentro desse plano. Encerro o assunto com a indagação: qual será o protagonismo de planejamento de Mato Grosso nessa imensa engenharia? Até o momento, só foguetórios políticos. Os meios públicos e os políticos completamente alheios.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
ribeiro.onofre@gmail.com www.onofreribeiro.com.br
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