Começo contando um episódio recente, através do qual gostaria de começar uma conversa em torno dessa nova atitude que nasce silenciosamente dentro da sociedade brasileira, à margem de tudo o que está rolando hoje. Há dois meses almoçando na chácara de um amigo, na Guia, nós adultos comemos pratos costumeiros e tradicionais como churrasco, cozidão cuiabano, arroz maria isabel e feijão empamonado (tutu mole). Estávamos no quiosque a uns 50 metros da casa principal. Um grupo de jovens estava lá por causa do ar condicionado. Na hora de almoçar vieram, olharam pra comida com um ar de desprezo e um deles disse: “a gente não come esse tipo de comida”. E voltaram pro seu ar condicionado.
O que isso quer dizer? Perguntaria o leitor. Imagino que a atitude daquele grupo de jovens reflita um comportamento muito mais profundo. Eles estão se guiando por uma calendário próprio. Assim como não comem o cozidão cuiabano, também não digerem muitos comportamentos tradicionais. Aqui entra a política. Como professor tenho percebido claramente que os jovens desprezam a política porque ela lhes sugere coisas sujas. Mas não deixam de estar ligados na necessidade transformações na política. Na verdade, eles entendem que é possível um tipo de relação de poder entre o Estado e os cidadãos, eles incluídos, naturalmente, sem passar pela cachorrada atual.
Cansei de estimular debates em sala de aula pra procurar compreender essa nova linguagem que os jovens advogam. Pensar que eles rejeitam a política, é engano. Estão atentos e ligados, mas não querem nada do que está aí. De novo o leitor perguntará: o que eles querem, então? A leitura que percebi é a de que eles não se meterão nessa sujeira como eles enxergam a política. Sabem que terão um papel na reconstrução. Então, estão esperando a brecha pra agirem. Claro que não é do dia pra noite. O futuro lhes pertence e eles não desejam herdar um monte de lixo. As mídias sociais, as novas fontes de informações que chegam aos jovens não são as mesmas dos adultos. Dá, pra arriscar a dizer que hoje existem duas sociedades caminhando paralelas e se comunicando pouco.
Por que? Perguntaria mais uma vez o leitor. É porque essas duas sociedades usam linguagens diferentes e se comunicam em diferentes freqüências. Os adultos comem cozidão e os jovens querem comidas mais leves, talvez mais saudáveis? Diria que não. Querem alguma coisa que para eles tenha significado. Temos novas linguagens navegando no inconsciente coletivo no Brasil.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
ribeiro.onofre@gmail.com www.onofreribeiro.com.br
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