Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso

Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso
Av. André Maggi nº 6, Centro Político Administrativo

Governo de Mato Grosso

sábado, 20 de fevereiro de 2016

"Opinião: Ancara está isolada e sem um plano de ação claro"

Culpar os curdos sírios apenas isola ainda mais a Turquia de seus aliados.O que Ancara precisa é evitar confrontações internacionais e definir prioridades, opina Seda Serdar, chefe da redação turca da DW.
Ancara foi atingida por um novo atentado terrorista, depois das explosões de outubro de 2015. O ato vem numa hora em que a Turquia se vê encurralada e em desacordo com seus aliados de longa data no conflito sírio. O momento escolhido para o ataque, que matou ao menos 28 pessoas, parece comprovar a argumentação do governo turco sobre o perigo representado pelos grupos curdos na região.
O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, culpabilizou as organizações Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e Unidades de Proteção Popular (YPG). Enquanto o PKK é classificado como terrorista por instâncias internacionais, este não é o caso das YPG, braço armado do Partido da União Democrática (PYD) da Síria e aliada síria do PKK.
Pois os principais aliados da Turquia na luta contra o terrorismo, inclusive os Estados Unidos e a União Europeia, veem o YPG/PYD como um protagonista forte na luta contra o "Estado Islâmico".
Já para Ancara, acontecimentos na região fronteiriça sírio-turca e o surgimento de núcleos curdos no norte da síria oferecem novos desafios, e o bombardeio das YPG foi uma reação aos ataques armados destas contra a Turquia.
As advertências de Ancara durante a última semana não bastaram para deixar claro à comunidade internacional onde está a "linha vermelha" da política turca: Ancara não quer de jeito nenhum que as YPG sejam vistas como um parceiro para negociações. Nesse ponto, o governo turco é irredutível.
Em seguida ao ataque à capital turca, a intenção do governo de aprovar no Parlamento uma lei antiterrorismo foi neutralizada pelo pró-curdo Partido Democrático dos Povos (HDP), enfurecido pela ofensiva governamental contra o PKK no leste do país.
Isso mostra, por um lado, que Ancara é incapaz de unir a nação, mesmo em situações extremas. Por outro lado, mostra que o HDP não vai assinar leis que condenem o PKK.
A esperança de Ancara, de que a crise de refugiados forçasse a comunidade internacional a encontrar uma solução mais rápida para o conflito na Síria, não vingou. Sua aspiração de que essa solução viria ao encontro dos interesses turcos também também se mostrou pouco realista. É verdade que a zona de exclusão aérea que a Turquia tem reivindicado encontrou alguma ressonância junto à chanceler federal alemã, Angela Merkel. Mas isso não foi suficiente e veio tarde demais.
Embora a guerra na Síria seja um problema internacional que remonta à "linha vermelha" imposta pelo presidente americano, Barack Obama, à agressiva intervenção russa e à inação da comunidade internacional, a Turquia está na linha de frente do conflito. E ela está sozinha e frágil porque é incapaz de resolver o problema curdo em nível doméstico e por ter permitido que este avançasse para além de suas fronteiras.
Esse isolamento poderá se transformar em ainda mais agressão. A Turquia está considerando enviar tropas terrestres para a Síria, algo que os Estados Unidos têm rejeitado desde o início do conflito. Se a segurança da Turquia está ameaçada, o governo turco deixou claro que está disposto a tudo que esteja em seu poder para assegurá-la.
O atentado em Ancara e sua alegada conexão com as YPG são como lenha na fogueira. A Turquia precisa evitar qualquer confrontação militar na Síria. O conflito no leste turco, sozinho, já custou centenas de vidas, e o maior erro do governo seria desestabilizar a região ainda mais.
Em declarações recentes, Davutoglu ressaltou as ligações do PKK com a antiga União Soviética, acrescentando que, desde então, a organização terrorista têm sido usada por outros Estados. Porém, exacerbar as atuais tensões entre a Rússia e a Turquia só vai prejudicar ainda mais esta última. Se os turcos entrarem numa confrontação militar em terra na Síria, eles ficarão ainda mais isolados do que já estão.
A Turquia precisa estabelecer suas prioridades. Ela está diante de problemas múltiplos: a questão curda em casa; a crise dos refugiados dentro e diante de suas fronteiras; e, não menos importante, o conflito sírio e as tensões internacionais que este cria. O governo precisa priorizar suas metas. O país precisa urgentemente de uma política externa sólida e de um plano claro para resolver seus problemas em nível interno, inclusive a crise dos refugiados e o terrorismo.

Seda Serdar é chefe da redação turca da DW

Nenhum comentário:

Postar um comentário