No dia em que saí do Brasil, abandonei amigos, família, trabalho e estudo. Eu não tinha a menor esperança de um dia voltar ao país em que nasci. Eram muitas mágoas e a total falta de perspectivas. Estávamos saindo de uma ditadura que durou 21 longos anos. Eu nunca havia sequer votado para presidente do meu país. Cheguei aí dia 24 de março de 1986. Naquela época, o Brasil vivia à base de planos econômicos. O do momento se chamava PLANO CRUZADO; outros viriam, para desespero das classes mais pobres.
Depois de 30 anos, não imaginava que teria de novo essa sensação de ser vigiado, de ter os direitos individuais cerceados. De ser torturado moralmente, escorraçado, aviltado e de temer pelo futuro do meu filho, de todos os filhos de um país que, com todas as dificuldades, tinha se encontrado.
Não chegamos à plenitude da democracia, como sempre sonhamos, mas pudemos viver um país mais plural, diverso e rico em sua multiplicidade cultural.
Não consigo deixar de ver os avanços sociais inegáveis, momento em que os mais pobres, tão sacrificados pela visão austera e neoliberal, tiveram voz e começaram a se fazer presentes nas universidades, no mercado de trabalho e na vida política.
Quase 40 milhões deixaram a pobreza extrema. Lula fez uma revolução no Brasil. Os índices do governo não deixam dúvidas.
Uma vez, quando estávamos atravessando para o lado oriental de Berlim, no Checkpoint Charlie, um soldado pediu nossos passaportes. Todos, no carro, ficaram surpresos com a atitude e reação do bronco comunista.
Ele perguntou: “Quem é o brasileiro aí?” Levantei a mão, um pouco tenso. Então, ele disse: “Pelé!” e sorriu. Vocês disseram que nunca tinham visto um soldado da Alemanha Oriental sorrir. “Pelé”, disse ele.
Naqueles meados dos anos oitenta, o Brasil era prova concreta do país que não tinha dado certo. Os escândalos de corrupção, a política econômica sob o cabresto do FMI e a pobreza veloz, inefável se alastrando como epidemia.
Tu lembras dessa realidade, pois visitaste um Brasil desdentado e de pés descalços. Um Brasil para ricos e brancos.
Faz pouco, vieste nos visitar. Pode ver um Brasil em pleno desenvolvimento e em transformação social surpreendente. Muito diferente daquele de 20 anos.
Voltei em 2008, para uma palestra na Universidade de Berlim. Logo que cheguei, fui a um pequeno mercado. O sujeito que me atendeu perguntou de onde eu vinha.
Do Brasil, respondi. Imediatamente ele abriu um sorriso e disse: Lula!
Senti orgulho do Brasil.
Pois bem, meu amigo, é sobre Lula que quero falar.
Denúncia: O BRASIL ESTÁ EM PERIGO!
Esta carta tem um propósito: denunciar à comunidade internacional o que está acontecendo no Brasil neste momento.
Articulado por setores conservadores da política brasileira – perdedores nas últimas quatro eleições presidenciais – com a ajuda da grande imprensa nacional e de órgãos e empresas internacionais, um golpe aqui está em curso.
O objetivo é desestabilizar o governo e o país para derrubar a presidenta do Brasil, Dilma Roussef, eleita pela maioria do povo brasileiro.
A tática é recorrente, outras economias mundiais sofreram e vêm sofrendo esse tipo de ataque. No Brasil, especificamente, a estratégia é criminalizar a política, blindando de forma absurda e com o apoio da mídia, políticos conservadores e corruptos.
O ex-presidente Lula, eleito em 2002 e reeleito em 2006, cuja aprovação final foi a maior registrada de um presidente da república, está sendo covardemente atacado em sua honra e em toda a sua trajetória política.
Lula é perseguido pelo judiciário e pela mídia brasileira. Uma verdadeira caça às bruxas. Querem prender o ex-presidente mesmo sem provas. A exceção aplicada beira ao ridículo.
No dia 04 de março, ocorreu uma tentativa de sequestro de Lula. Através de um mandato de prisão coercitiva (sem qualquer base jurídica).
O ex-presidente foi levado ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com a desculpa esfarrapada de colherem seu depoimento. Dali, ele seria conduzido para Curitiba, sede da operação lava-jato – um arremedo da Mani Pulite italiana – onde seria preso sob alegação de crimes até o momento não provados.
Salta aos olhos o desequilíbrio da força judicial concentrada apenas em Lula e políticos do Partido dos Trabalhadores. A ideia é criminalizar o partido e seus membros, através da manipulação da opinião pública – linchamento moral – como se fossem criminosos e inimigos do povo brasileiro.
A imprensa, em especial a Rede Globo de Televisão, bombardeia insistentemente o PT e ataca o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma com o único objetivo de disseminar o ódio nos brasileiros para, junto à direita, retomar o poder.
Passeatas são meticulosamente organizadas e insufladas por esta mídia perversa, que, além de fazer chamamentos incisivos, cobre os eventos como se fosse a Copa do Mundo.
Estamos todos os brasileiros sendo ameaçados em nossas liberdades, pois a perseguição política não se restringe ao Lula ou a Dilma, mas a quem ousa combater as mentiras perpetradas por essa máfia conservadora, bancada por empresários nacionais e internacionais.
O Brasil está sob ataque terrorista internacional, e isso se estende a vários países da América Latina, numa espécie de reedição da Operação Condor, dos anos 70 e 80. Querem fazer com o nosso país o que fizeram na Síria e Iraque.
Por isso, precisamos de todo apoio internacional para denunciar o Golpe que está em andamento. Lula pode ser preso a qualquer momento e, para isso, não precisarão de nenhuma justificativa. Será um preso político dentro do país que ele transformou.
Se derrubarem Dilma, assumirão políticos declaradamente corruptos, como o presidente do congresso nacional, Eduardo Cunha, que, apesar dos crimes de corrupção cometidos e COMPROVADOS, não está preso e ainda comanda a presidência da câmara.
Precisamos da ajuda do mundo.
Na última sexta-feira, 18 de março, o povo foi para as ruas para defender Lula e a democracia. Fomos às ruas contra o golpe.
A cobertura jornalística tenta apequenar o movimento espontâneo, da mesma forma que incha e infla as passeatas contra o governo. A manipulação é tamanha, que pessoas saem pelas ruas como se fossem arautos da honestidade.
Parte da população brasileira está envenenada pelo bombardeio midiático e, por essa razão, está agindo com violência. Muita gente já sofreu ataques, por discordar ou, ainda mais grave, simplesmente por usar uma roupa vermelha, que representa o Partido dos Trabalhadores.
A intolerância é uma porta aberta ao fascismo. Há de se trazer luz a esse vendaval de mentiras e boatos. De maneira irresponsável, estão incendiando o país.
Se o golpe se concretizar, há uma grande chance de começarmos uma espécie de guerra civil. O país está dividido.
Querem jogar o voto de 54 milhões de brasileiros no lixo.
Sim, há resistência, muita. Os mais importantes juristas do país estão se mobilizando em favor de Lula. Artistas e intelectuais estão dando a cara a bater, e grande parte da sociedade brasileira está resistindo ao golpe. Vários setores da sociedade estão se posicionando contra o golpe, como a CNBB – Confederação Nacional dos Bispos Brasileiros.
Eu, assim como milhares de brasileiros, defenderei meu voto e o futuro do meu país.
Peço-te toda atenção possível, meu amigo. Traduzas essa carta-denúncia e envie para organizações, imprensa e amigos, para que todos saibam o que, de fato, está acontecendo no Brasil.
Lutaremos!
Um abraço, com todo o carinho, do teu amigo brasileiro,
Jari Mauricio da Rocha

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