
Mas consequências pelo menos tão graves são igualmente de se esperar no resto da UE. Não só a faltará um contribuinte para o orçamento: perde-se também um peso-pesado na política externa, diplomacia e no aspecto militar; um Estado que tornou a UE mais aberta para o mundo e mais voltada para a competitividade.
A Alemanha sentirá especial falta dos britânicos. Há suficientes países que preferem isolar a UE da globalização e que para quem disciplina orçamentária é um palavrão. Londres e Berlim vinham trabalhando juntos contra esta tendência. Esse parceiro agora passa a faltar.
Talvez a consequência mais importante, no entanto, seja política e pouco tangível: o exemplo britânico pode fazer escola. Não é preciso que chegue a haver outras saídas, mas outros países podem ameaçar com referendos semelhantes e, a exemplo do Reino Unido, inicialmente exigir todo tipo de exceções e direitos especiais. No fim, restaria uma União Europeia onde cada um escolhe para si o que melhor lhe convém, sem se comprometer a mais nada. Essa estrutura mais informal deixa de ser um global player que possa ser levado a sério.
Muitos na Europa querem que os britânicos agora sintam na pele por sua decisão de sair: fora é fora, sem concessões. Pelo contrário: querem estabelecer um exemplo e, assim, mostrar a Estados com tendências similares que não há perdão para "desertores" (uma expressão do presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker). Isso seria humanamente compreensível, mas prejudicaria os próprios interesses.
Quem quer retaliação, ignora o atual grau de ceticismo e até hostilidade contra a Europa em muitos países do continente. Ameaças desse tipo só inflamariam ainda mais o clima. Em vez disso, agora é preciso manter a calma e tentar estabelecer novos laços com os britânicos. Claro que não será um substituto completo para o papel de membro da UE, mas uma política do tudo ou nada não é a resposta.
Por fim, a UE deve se questionar criticamente. Os cidadãos já não aguentam mais ouvir o velho mantra de Bruxelas, de que todos os problemas só podem ser resolvidos com "mais Europa". Um exemplo é a crise de refugiados, considerada por muitos o maior desafio do continente.
Aqui, a expressão "mais Europa" inclui especialmente a proposta (alemã) de distribuir por todo o bloco um número teoricamente ilimitado de migrantes, que outros países sequer querem deixar entrar. A crise não resolvida da dívida, com sua "resposta europeia", também abriu mais fossos do que fechou. Os países ricos se sentem explorados, os pobres, comandados.
No futuro, o valor agregado da cooperação europeia precisa ser melhor justificado, caso a caso. Não basta insistir que a UE é um "projeto de paz" e deixar todas as outras questões de lado.
Sim, a decisão britânica é um pesadelo. Ao mesmo tempo, é também o toque de despertar mais alto que se possa imaginar. Autocrítica impiedosa e reflexão sobre o que se deseja alcançar em conjunto futuramente, estão agora na ordem do dia.
Christoph Hasselbach é jornalista da redação alemã da DW
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