
Um populista num país de satisfeitos
Comparada pelo jornal Washington Post com a ascensão de Donald Trump ("ele parece muito com o presidente americano"), sua campanha foi centrada no lema "agora ou nunca", e ele conseguiu atingir também os eleitores da ala mais eurocética ao prometer que a República Tcheca não aceitaria o euro e ao defender uma Europa que "não trate ninguém como cidadão de segunda classe". Nas eleições de 2013, Babis já havia chocado o meio político tcheco ao ficar em segundo lugar, com 18% dos votos. Isso lhe possibilitou formar governo com os social-democrata e os democrata-cristãos, o que lhe rendeu o cargo de ministro das Finanças. Mesmo no governo, ele conseguiu manter o discurso antiestabilishment focando em reformas econômicas e combate à corrupção. Enquanto ascendia na atual campanha, Babis se tornou alvo de uma investigação da Justiça tcheca sobre crimes fiscais e uso fraudulento de recursos europeus. Indiciado num processo que diz ter motivação política, ele acabou afastado do cargo em maio passado. Observadores apontam como curioso o fato de a forte queda dos partidos tradicionais e o fortalecimento de Babis, o segundo homem mais rico do país, acontecerem justamente no momento no qual cerca de 80% dos tchecos se declaram satisfeitos com sua situação pessoal. "Estas eleições estão vazias de temas reais, a divisão entre direita e esquerda desapareceu completamente, e os temas principais foram dois: Babis e o comércio do medo", afirma Jiri Pehe, analista político e diretor da New York University de Praga. O "comércio do medo" consiste, segundo o analista, em "criar ameaças virtuais - como os imigrantes, o islã, o terrorismo, o medo de adotar o euro como moeda – e alguns políticos que lutam contra elas". Mas na República Tcheca, completa Pehe, "não há migração, quase não há muçulmanos, não há ataques terroristas e o euro seria politicamente benéfico". Em 2015, auge da crise migratória, um sistema de solidariedade entre os membros da UE foi criado como solução para aliviar a pressão sobre Grécia e Itália, países que, por sua posição geográfica, mais recebem refugiados. O objetivo era realocar 160 mil refugiados, mas a falta de vontade política – sobretudo por parte dos países do Leste europeu – fez com que ainda se esteja longe da meta. Desde 2015, Hungria e Polônia receberam apenas um refugiado realocado cada, e a República Tcheca se retirou do programa após dar abrigo a 12.
RPR/dpa/ots/cp
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