
Com a Palestina, sem os EUA
Os Estados Unidos, que deveriam prover cerca de 20% do orçamento da Unesco, suspenderam seu financiamento em 2011, no governo do presidente Barack Obama, quando a agência admitiu a Palestina como 195º membro pleno. Atualmente, Washington deve cerca de 550 milhões de dólares à instituição. Como resultado do corte nos fundos, a agência foi obrigada a reduzir seus funcionários e cancelar programas e projetos. Em novembro de 2013, a Unesco decidiu que EUA e Israel haviam perdido seu direito de voto por terem falhado o pagamento da contribuição financeira à organização. Em julho passado, os dois países já tinham advertido que estavam reavaliando sua ligação por causa da decisão da organização de inserir a cidade histórica de Hebron, na Cisjordânia ocupada, na lista de patrimônio mundial como território palestino. Nesta quinta-feira, os EUA anunciaram sua saída definitiva, acusando a Unesco de ter uma postura anti-Israel. Logo em seguida, Israel fez o mesmo. O Departamento de Estado dos EUA disse que a saída entrará em vigor em 31 de dezembro de 2018. Até lá, o país permanecerá como membro de pleno direito. Depois, pretende manter um status de observador.
Não é a primeira vez que os EUA deixam a Unesco. Em 1984, durante a presidência de Ronald Reagan, o país alegou antiamericanismo e corrupção para sair da organização. O retorno se daria em 2003, já na presidência de George W. Bush, quando os EUA viram a Unesco como um meio para o combate ao terrorismo. Porém, desta vez a saída se dá dentro de um contexto mais amplo devido à doutrina "America first", do presidente Donald Trump. A saída da Unesco enfatiza o ceticismo expressado por Trump sobre a real necessidade de o país permanecer em organizações multilaterais.
China ocupa o espaço
A vice-representante da Rússia na agência, Tatiana Dovgalenko, declarou à agência de notícias AP que a decisão dos Estados Unidos, "um dos países que fundaram o sistema ONU", é "um choque e uma pena". Ela insistiu, porém, que não haverá um vácuo de poder na Unesco. "Países como nós e a China já têm sua influência." Entre os concorrentes ao cargo de diretor-geral da Unesco estava o diplomata chinês Qian Tang, que renunciou à candidatura durante o processo seletivo. Antes de tomar essa decisão, ele declarou à revista Foreign Policy que "a China quer cumprir com suas responsabilidades globais e contribuir para a paz e o desenvolvimento num nível global", Segundo ele, a Unesco é uma boa plataforma para isso. Para a revista, a China já está ocupando espaços deixados vagos pelos Estados Unidos em organizações internacionais, e isso vale também para a Unesco. Depois que os EUA suspenderam seus recursos financeiros para a agência, o país asiático destinou milhões de dólares extraorçamentários para programas de educação, incluindo 8 milhões para programas de treinamento de professores em oito países africanos e mais 5 milhões para o relançamento da revista trimestral Courier, afirmou a Foreign Policy.
AS/rtr/afp/dpa/lusa/ots/cp
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