
Pódio da desigualdade
Mas houve exceções ao padrão de crescimento vertiginoso. "No Oriente Médio, África subsaariana e Brasil, as desigualdades permaneceram relativamente estáveis, mas a níveis muito elevados", afirmou o documento. As três regiões formam o pódio da desigualdade no mundo: África subsaariana (54%), Brasil e Índia (55%) e o Oriente Médio (61% da renda nas mãos dos 10% mais ricos). Segundo os pesquisadores, essas regiões são as "fronteiras da desigualdade". No caso do Brasil, o documento se baseia num estudo publicado em setembro por um discípulo de Piketty, o irlandês Marc Morgan. O trabalho gerou controvérsia, pois sugeriu que a desigualdade no Brasil é muito maior do que indicada em outras pesquisas, apesar dos avanços sociais observados nos últimos anos. Estes dados também se limitam ao período entre 2001 e 2015. A renda nacional total cresceu 18,3% no período analisado, mas 60,7% desses ganhos foram apropriados pelos 10% mais ricos, contra 17,6% das camadas menos favorecidas. A expansão foi feita às custas da faixa intermediária de 40% da população, cuja participação na renda nacional caiu de 34,4% para 32,4%. De acordo com o estudo, a queda se deve ao fato de que essa camada da população brasileira não se beneficiou diretamente das políticas sociais e trabalhistas dos últimos anos e nem pôde tirar proveito dos ganhos de capital (como lucros, dividendos, renda de imóveis e aplicações financeiras), restritos aos mais ricos. Em termos de evolução, a divergência é "extrema entre a Europa Ocidental e os Estados Unidos, que tinham níveis de desigualdade comparáveis em 1980, mas se encontram atualmente em situações radicalmente diferentes", destacou o estudo. Em 1980, a parte da riqueza nacional nas mãos de 50% dos contribuintes mais pobres era quase idêntica nas duas regiões: 24% na Europa Ocidental e 21% nos EUA. Desde então, o índice permaneceu estável, a 22%, no lado europeu e caiu a 13% no americano.De acordo com Piketty, um fenômeno que se deve pela "queda das rendas da menor faixa" nos Estados Unidos, mas também por uma "desigualdade considerável na área de educação e uma tributação cada vez menos progressiva neste país". A principal vítima desta dinâmica, segundo o relatório, baseado em 175 milhões de dados fiscais e estatísticas computadas pelo projeto wid.world (wealth and income database), é a classe média mundial. Entre 1980 e 2016, o 1% dos mais ricos obteve 27% do crescimento mundial. Os 50% mais pobres receberam apenas 12% da riqueza, mas viram sua renda aumentar significativamente. O que não aconteceu com as pessoas entre as duas categorias, cujo "crescimento da renda foi frágil". Os autores do estudo anteciparam um novo crescimento até 2050, com base nas atuais tendências. A participação do patrimônio dos mais ricos aumentaria assim de 33% a 39%, enquanto a classe média mundial veria sua participação no patrimônio cair de 29% a 27%.
PV/afp/dpa/ots/cp
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