É claro que este pequeno produtor que ocupou o bioma dentro de uma concepção desenvolvimentista não pode ser o único culpado pela devastação de sua área, uma vez que havia um ‘modelo de ocupação’. E por outro lado, ele dificilmente vai desenvolver qualquer serviço ambiental sem alguma compensação ou pagamento do serviço ambiental. A estratégia PCI (Produzir, Conservar e Incluir) apresentada na Europa pelo atual Governo em 2015, tem como fundamento na agricultura familiar, reconhecer de fato e direito a nossa condição amazônica oferecendo aos municípios e aos pequenos produtores uma certa compensação pelo serviço ambiental desenvolvido em forma de apoio e agregação de valor as suas atividades produtivas, resolvendo assim essa suposta oposição entre produção e preservação. Esta iniciativa vai aos poucos mudar a situação de abandono das pequenas propriedades através da inclusão produtiva e os municípios vão se desenvolver economicamente com a preservação ambiental, principalmente, quando se reconhecerem como sendo amazônicos, porque até então esta condição só trazia desvantagens. Há que se considerar o papel e a força do estado de Mato Grosso e do ‘governo Taques’ que de maneira corajosa liderou junto da sociedade civil, a PCI, nas Conferências Mundiais do Clima (Cop’s) da França e Alemanha em 2015/2017. A estratégia PCI já dá um novo rumo para o desenvolvimento do estado rompendo com uma visão desenvolvimentista ainda da segunda metade do séc. XIX. Já percebemos muitas iniciativas interessantes surgindo, inclusive nas estratégias de reflorestamento com produção de mudas de castanheira precoce em Apiacás e Castanheira, produção de Guaraná em Santa Helena, o Pro-Café no noroeste, a extração de castanha nativa em Claudia, o Açaí dos índios Araras em Aripuanã entre outras iniciativas que agora terão um investimento real por parte dos países desenvolvidos que investem e defendem a qualquer custo a preservação. Demorou mais de 30 anos para superarmos o modelo antigo de progresso e termos este encontro entre desenvolvimento sustentável, ambientalismo e agricultura familiar. O município de Vila Bela também faz parte do bioma amazônico e foi de lá que os portugueses observando a vegetação batizaram nosso estado e é inacreditável que passamos tanto tempo para dar sentido e razão a essa condição e identidade regional, esse gentílico. Diria pela exuberância do nome das cidades: Castanheira, Itaúba, Juruena e Alta Floresta, que nenhum estado da federação brasileira é tão ligado a Floresta Amazônica quanto o nosso, por mais que ainda não tenhamos consciência disso, tanto que o estado traz no nome essa verdade: Mato Grosso.
Suelme Fernandes é Mestre em História pela UFMT e está secretário de Estado de Agricultura Familiar há 3 anos
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