
Além de Costadoat, José Maria Castillo, 87 anos, um dos mais prestigiados teólogos europeus. Jesuíta, ex-professor de teologia em Granada e professor visitante na Gregoriana, em 1988, por causa de suas posições críticas em relação à Igreja, foi afastado do ensino. Em 2005, com outros 11 teólogos europeus e estadunidenses, assinou um “Apelo à clareza”, na tentativa de combater o processo de beatificação de Wojtyla. Foi forçado a emigrar para a Universidade Centro-Americana “José Simeon Cañas”, em San Salvador, onde lecionou durante anos. Ele conta: “Em 1988, Joseph Ratzinger, então prefeito do ex-Santo Ofício, o arcebispo de Madri, Ángel Suquía Goicoechea, e o prepósito-geral dos jesuítas, Peter Hans Kolvenbach, se encontraram e falaram sobre mim. Não sei o que conversaram. O fato é que, sem qualquer processo e sem me darem qualquer explicação, o ensinamento foi tirado de mim. Durante anos, vivi com essa maldição sobre meus ombros, olhado com suspeita por todos. Esperei em silêncio, abandonado por todos. Até poucas horas atrás, quando tocou o telefone de casa. Era Francisco. Ele me disse: ‘Reze por mim’. Ele está ciente das injustiças que tantos teólogos sofreram sem motivo”. Segundo Castillo, as censuras ainda estão vivas. Ele acredita que Francisco sabe muito bem que existem centenas de teólogos aos quais a Igreja proibiu o ensinamento por causa de livros considerados dissonantes com a doutrina. E que, se pudesse, reabilitaria todos. “Mas as forças que se opõem a ele são múltiplas”, diz. Castillo pensa, por exemplo, em um episódio recente: “Há não muito tempo, fui convidado a dar uma conferência em uma diocese italiana. O bispo, ouvindo falar da minha chegada, proibiu todas as instituições católicas de me acolherem. E avisou a todos que não era oportuno que fossem me escutar. É esse o clima de medo que ainda existe. Assim como existem padres e bispos que fazem guerra ao papa”. Os motivos são múltiplos. Entre eles, problemas de carreira e de prestígio pessoal. Diz Castillo: “Francisco vê ao seu redor uma Igreja que se embeleza com a sua liturgia, que vive de dinheiro e de riquezas, que propõe uma religião limpa e linda, sem se encarnar nos sofrimentos dos homens. Não é fácil para ele. Ele encontra as mesmas resistências que Jesus encontrou por parte dos líderes religiosos do seu tempo”. Para Costadoat, o centro do problema são as faculdades pontifícias, por causa da relação que têm com a Doutrina da Fé: “Trata-se de um vínculo diabólico”.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 16-01-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
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