
Continuando sua análise, o Papa Francisco refere-se ao fato de que hoje a desinformação pode contar com a gigantesca amplificação devida “a um uso manipulador das redes sociais e das lógicas que garantem o seu funcionamento: assim os conteúdos, embora desprovidos de fundamento, ganham tal visibilidade que as próprias desmentidas de autoridade dificilmente conseguem conter seus danos”.
“O drama da desinformação – para o papa – é o descrédito do outro, sua representação como inimigo, chegando-se a uma demonização que pode fomentar conflitos. Deste modo, as notícias falsas revelam a presença de atitudes simultaneamente intolerantes e hipersensíveis, cujo único resultado é o risco de se dilatar a arrogância e o ódio. É a isso que leva, em última análise, a falsidade.”
Por isso, para Francisco, são “louváveis”: 1) as iniciativas educativas que permitem aprender a ler e avaliar o contexto comunicativo, ensinando a não ser divulgadores inconscientes de desinformação, mas atores do seu desvendamento; 2) iniciativas institucionais e jurídicas empenhadas na definição de normativas que visam conter o fenômeno, e ainda iniciativas, como as empreendidas pelas tech e media companies, aptas a definir novos critérios para a verificação das identidades pessoais que se escondem por detrás dos milhões de perfis digitais. No combate às fake news, “particularmente envolvido está quem, por profissão, é obrigado a ser responsável ao informar, ou seja, o jornalista, guardião das notícias”.
A oração do jornalista
Como nos defendermos, então?, pergunta-se o Papa Francisco. “Na visão cristã, a verdade não é uma realidade apenas conceitual, que diz respeito ao juízo sobre as coisas, definindo-as verdadeiras ou falsas”, explica Francisco.
“A verdade não é apenas trazer à luz coisas obscuras, ‘desvendar a realidade’, como faz pensar o antigo termo grego que a designa: aletheia, de a-lethès, ‘não escondido’.”
A verdade é aquilo sobre o qual podemos nos apoiar para não cair. Na linguagem bíblica, a palavra verdade tem a mesma raiz (‘aman) da palavra litúrgica “amém”. Por isso, o papa, inspirando-se na oração de outro Francisco (o Santo de Assis), convida a todos, particularmente os operadores da informação, para não caírem, a recorrerem à Verdade em pessoa (isto é, a Jesus Cristo) com esta oração:
Senhor, fazei de nós instrumentos da vossa paz.
Fazei-nos reconhecer o mal que se insinua em uma comunicação que não cria comunhão.
Tornai-nos capazes de tirar o veneno dos nossos juízos.
Ajudai-nos a falar dos outros como de irmãos e irmãs.
Vós sois fiel e digno de confiança;
fazei que as nossas palavras sejam sementes de bem para o mundo:
onde houver rumor, fazei que pratiquemos a escuta;
onde houver confusão, fazei que inspiremos harmonia;
onde houver ambiguidade, fazei que levemos clareza;
onde houver exclusão, fazei que levemos partilha;
onde houver sensacionalismo, fazei que usemos sobriedade;
onde houver superficialidade, fazei que ponhamos interrogativos verdadeiros;
onde houver preconceitos, fazei que despertemos confiança;
onde houver agressividade, fazei que levemos respeito;
onde houver falsidade, fazei que levemos verdade.
Amém.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada no sítio L’HuffingtonPost.it, 24-01-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto
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