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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

''A Igreja precisa ouvir as pessoas homossexuais.'' Entrevista com o jesuíta James Martin

james_martin.jpgO Pe. James Martin, SJ está lançando uma edição revisada e expandida de Building a Bridge, seu livro sobre a relação entre a comunidade LGBT e a Igreja Católica. A parte principal do livro se baseia em um discurso que ele proferiu após o recebimento do Prêmio Bridge Building, do New Ways Ministry, em outubro de 2016.
Eis a entrevista.
Você acrescentou as histórias de pessoas que você conheceu quando participou de palestras e outros eventos. Por que a narração de histórias é uma parte tão importante desse debate?
O medo é descontrolado. Como diz o Novo Testamento, o amor perfeito afasta o medo. Mas eu gostaria de acrescentar que o medo perfeito afasta o amor. E isso torna mais difícil escolher ouvir
Primeiro, porque é essencial ouvir os próprios católicos LGBT. A primeira edição do livro continha principalmente meus próprios pensamentos sobre como a Igreja institucional e os católicos LGBT poderiam se aproximar. É claro, esses pensamentos se baseavam nas minhas interações com ambos os grupos, mas, nesta edição, eu realmente quis dar voz às próprias pessoas LGBT: para permitir aos leitores ouvir suas próprias histórias.
Em segundo lugar, eu acho que aprendemos melhor com as histórias. Quando eu estava escrevendo meu livro sobre Jesus há alguns anos, me deparei com uma ótima citação de Walter Brueggemann, o biblista, que dizia que os lugares mais profundos das nossas vidas – lugares de “resistência e abraço”, como ele os chamou – não são alcançados com definições, mas sim com histórias.
Essa é uma das razões pelas quais Jesus ensinava tão frequentemente com histórias – as parábolas. Quando lhe perguntam sobre o reino de Deus, ele não dá uma definição, ele conta uma história. Uma definição, às vezes, pode fechar a mente; uma história pode abri-la. Então, eu quis compartilhar histórias das vidas dos católicos LGBT para ajudar a abrir algumas mentes.
Na edição revisada, você enfatiza que é a Igreja institucional que tem “a responsabilidade principal” de iniciar o diálogo e a reconciliação por causa do dano que ela causou. Como as lideranças da Igreja podem assumir essa responsabilidade hoje? Por que tantos optam por não fazer isso?
Há alguns meses, o cardeal Blase Cupich sinalizou sua intenção de promover “sessões de escuta” com as pessoas LGBT na Arquidiocese de Chicago. Esse é um grande passo
Principalmente ouvindo os católicos LGBT. Há alguns meses, o cardeal Blase Cupich sinalizou sua intenção de promover “sessões de escuta” com as pessoas LGBT na Arquidiocese de Chicago. Esse é um grande passo. Senão, como podemos ministrar para as pessoas se não as ouvirmos? Só então saberemos “acompanhá-las”, como disse o Papa Francisco, e, mais importante, como Jesus quereria. Além disso, as lideranças da Igreja podem assumir essa tarefa simplesmente se tornando amigas dessas pessoas. Nós subestimamos seriamente o valor da amizade nessa esfera. Nada muda tanto a compreensão de uma pessoa sobre um grupo anteriormente marginalizado ou odiado quanto simplesmente o fato de se tornar amigo de um deles.
Por que tantos optam por não fazer isso? É difícil de dizer. Para alguns, eu suspeitaria, é medo. Você não pode subestimar o papel do medo em tudo isso. Medo da pessoa LGBT como “outro”. Medo da própria ideia das relações entre pessoas do mesmo sexo. Medo de que falar com elas será visto como “rendição”. Talvez até medo da própria sexualidade complicada. E talvez um medo inconsciente de que se possa aprender algo novo, e isso os forçará a mudar seus pensamentos.
Mas o medo é descontrolado. Como diz o Novo Testamento, o amor perfeito afasta o medo. Mas eu gostaria de acrescentar que o medo perfeito afasta o amor. E isso torna mais difícil escolher ouvir.
Embora apoiada por muitas pessoas LGBT e lideranças da Igreja institucional, a primeira edição de Building a Bridge também foi criticada pelos dois lados da ponte. Quais foram algumas das ideias mais construtivas das críticas que ajudaram a moldar suas revisões?
Embora um diálogo respeitoso com as lideranças da Igreja é o caminho mais eficaz para construir pontes, a maioria dos católicos LGBT não têm um acesso real aos bispos, arcebispos e cardeais
Houve muitas. Certamente, a necessidade de ser mais claro em alguns pontos. Sua segunda pergunta destaca um deles: alguns leitores me disseram que sentiam que eu não estava sendo claro sobre quem recaía o peso do trabalho de reconciliação. Então, agora, isso está explícito na nova edição: ele recai principalmente sobre a Igreja institucional, porque é a Igreja que fez com que o católico LGBT se sentisse marginalizado, e não o contrário. Em segundo lugar, a necessidade de mais vozes de mulheres no livro: várias amigas lésbicas apontaram isso, e então eu incluí muitas mais.
Finalmente, surgiu um ponto importante ao falar com um grupo de ativistas LGBT na Igreja St. Paul the Apostle, em Nova York. Embora eu ainda sinta que um diálogo respeitoso com as lideranças da Igreja é o caminho mais eficaz para construir pontes, eles apontaram que a maioria dos católicos LGBT não têm um acesso real aos bispos, arcebispos e cardeais. Como padre, eu tenho avenidas abertas para mim – mais do que muitos leigos. Em outras palavras, essa “pista” da ponte está fechada para muitos católicos LGBT. Como ressaltou Jason Steidl, um teólogo abertamente gay e membro do grupo, às vezes o protesto é a única maneira pela qual os católicos LGBT podem se expressar. Às vezes, esse é o seu “carisma”. Então, eu dei mais espaço para essa ideia no livro.
Em ambas as edições, você observou que a comunidade LGBT e as lideranças católicas estão muito distantes sobre a ética sexual, para que consigam conversar sobre o assunto. Para além das questões pastorais, quais são algumas questões teológicas, ou de outro âmbito, sobre as quais os católicos LGBT e a Igreja institucional poderiam dialogar mais profundamente?
Precisamos refletir sobre como a linguagem oficial do Catecismo – “objetivamente desordenada”, “intrinsecamente desordenados” – afeta as pessoas LGBT, especialmente os jovens
Essa é uma ótima pergunta. A segunda metade do livro, como você sabe, é sobre a oração. Então, eu me pergunto se as lideranças da Igreja e os católicos LGBT poderiam voltar a olhar para algumas passagens do Evangelho que incluí para meditar sobre como Jesus ia ao encontro daqueles que estavam nas margens. Estou convencido de que certos relatos evangélicos – a mulher junto ao poço, o centurião romano que pede a cura do seu servo e a história de Zaqueu – podem ajudar a descerrar novos sentidos sobre as pessoas LGBT, se as deixarmos.
Além disso, dado o alto número de suicídios LGBT nos Estados Unidos, especialmente entre os jovens, e o fato de que simplesmente ser gay é punível com a morte em vários países, eu me pergunto se podemos começar a considerar as formas pelas quais as questões LGBT são muitas vezes “questões de vida”.
Por fim, precisamos refletir sobre como a linguagem oficial do Catecismo – “objetivamente desordenada”, “intrinsecamente desordenados” – afeta as pessoas LGBT, especialmente os jovens. Uma mãe de um filho gay, a quem eu cito na nova edição, disse que esse tipo de linguagem poderia “destruir” um jovem. Sua voz é uma parte importante do debate teológico em torno dessa questão. Podemos fazer teologia com ela e seu filho em mente?

Nas reflexões bíblicas para a edição revisada (uma seção muitas vezes esquecida nas revisões sobre a primeira edição), você acrescentou a história do Evangelho de João sobre quando Jesus se encontra com a mulher samaritana. As leituras feministas sugeriram que essa mulher é, de fato, o primeiro discípulo, e é uma história usada para promover a inclusão de mulheres na liderança da Igreja. Você acha que as causas da inclusão LGBT e da igualdade de gênero estão interligadas? Em caso afirmativo, como?
Às vezes o protesto é a única maneira pela qual os católicos LGBT podem se expressar. Às vezes, esse é o seu “carisma”
Definitivamente. Um dos estudiosos do Novo Testamento que eu cito nesse capítulo diz que existem duas razões pelas quais Jesus “não deveria” estar falando com ela, pelo menos de acordo com as normas do seu tempo: ela é samaritana e é mulher. Embora meu livro esteja focado na comunidade LGBT, a mensagem mais ampla é de inclusão total. Então, as duas coisas estão interligadas.
Precisamos meditar sobre como Jesus ouve a mulher samaritana, que certamente era uma figura marginalizada na sua comunidade (muitos estudiosos do Novo Testamento sugerem que a razão pela qual ela vai ao poço no calor do dia é por causa da sua vergonha dos seus muitos casamentos). É uma das interações mais longas que Jesus tem com qualquer um nos Evangelhos – mais do que com muitos dos discípulos (a cena do “Último Discurso” da Última Ceia, por exemplo, é mais um discurso, e não tanto um “bate-e-volta”). Jesus está realmente envolvendo essa pessoa das margens. Podemos fazer o mesmo? Podemos ouvir?

Na edição revisada, você destaca em maior detalhe a crise dos trabalhadores da Igreja LGBT que estão sendo demitidos por causa de sua sexualidade e/ou identidade de gênero. Esses incidentes ressaltam a disparidade de poder entre os católicos LGBT e a Igreja institucional. O diálogo requer vulnerabilidade. Mas por que os católicos LGBT deveriam se fazer vulneráveis em relação às próprias lideranças da Igreja que estão arruinando as vidas de outras pessoas LGBT?
Em primeiro lugar, não quero minimizar a dor que os católicos LGBT experimentaram. Desde que o livro foi publicado, eu fiquei abalado com os católicos LGBT que me contavam as histórias mais terríveis de como a Igreja os maltratou. Um jovem autista me contou recentemente que, depois que ele “saiu do armário” para sua família, seu pároco lhe disse que ele não podia mais receber a comunhão com os outros paroquianos. Aliás, esse homem não estava em qualquer tipo de relacionamento sexual com ninguém. Isso é simplesmente espantoso.
Mas, em segundo lugar, nem todas as lideranças da Igreja estão arruinando as vidas das pessoas LGBT. ´Há vários cardeais, arcebispos e bispos que são seus aliados. Basta olhar para aqueles que endossaram ou elogiaram o livro Building a Bridge. Sem falar de todos os padres, diáconos, irmãos, irmãs e lideranças leigas que são amorosos e acolhedores.
Mesmo assim, entrar em diálogo com alguém que você sente que é um inimigo nesse caso vale a pena. Por várias razões. Para começo de conversa, a pessoa pode precisar conhecer pessoas LGBT. Se ele ou ela não conhece, como aprenderá alguma coisa? O perdão também tem que entrar em questão, de algum modo: caso contrário, de que modo essa abordagem é cristã? Por fim, é necessário que os católicos LGBT tenham esperança em mudanças efetivas. Isto é, isso pode ser doloroso, mas é essencial.
Acima de tudo, minha experiência é que, assim que a maioria das lideranças da Igreja começam a conhecer pessoas LGBT, as coisas realmente começam a mudar. Eu almocei com um bispo há alguns meses, e, depois de uma longa conversa sobre o livro, ele disse: “Aliás, preciso lhe dizer uma coisa: meu sobrinho é gay”. Essa relação realmente moldou sua compreensão sobre as questões LGBT.

A edição revisada inclui questões para a discussão no fim. Uma das questões finais pergunta como o livro desafiou e consolou o leitor. Como a experiência de escrever, compartilhar e agora revisar o livro desafiou você? Como ela consolou você? Para onde você vê que o Espírito Santo o está movendo a partir de agora?
Isso me desafiou muito. Como você sabe, o livro provocou reações incrivelmente fortes – tanto positivas quanto negativas. As positivas superaram as negativas. Mas mesmo a intensidade das reações positivas – lágrimas, abraços, longas cartas e mensagens – tem sido algo que eu preciso levar à oração. Nas últimas semanas, centenas de pessoas me escreveram pedindo opiniões e conselhos. Então, tem sido tanto gratificante quanto desafiador.
Quanto à consolação, ela vem na oração. Eu tive uma experiência imensamente poderosa na oração em torno desse livro durante meu último retiro. Mas a consolação também vem quando eu me encontro com católicos LGBT que compartilham suas histórias comigo pessoalmente. Sempre que isso acontece, sou lembrado de que todas as reações negativas empalidecem ao lado da história de uma pessoa agradecida.
Quanto ao Espírito Santo, bem, eu me senti movido a escrever esta edição revisada logo após a publicação da primeira edição. Eu senti isso como trabalho do Espírito. E, ultimamente, estou me sentindo movido a defender as pessoas que estão sendo demitidas por causa de sua orientação [sexual].
Além disso, sobre esse assunto, estou disposto a ser guiado pelo Espírito. E, na minha experiência, é difícil de prever o Espírito. Então, vamos ver!
O blog Bondings 2.0, apresentou a primeira entrevista do Pe. Martin, concedida a Robert Shine, sobre o que foi adicionado na nova edição, como ele responde às críticas e por que o livro desafiou-o e consolou-o ao mesmo tempo. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

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