
Desde 2016 o governo do país suspendeu a distribuição de camisinhas entre a população, e o preço dos preservativos nas farmácias pode chegar com facilidade ao equivalente a 20% ou 30% do salário mínimo. "Veja, esse é um problema seríssimo no país hoje, simplesmente não há mais uma política de controle de natalidade e as doenças venéreas estão se espalhando pelo país de uma forma que ainda não temos ideia, o governo não divulga nenhum dado oficial há mais de dois anos”, conta conta Nubia Laguna, da ONG Niña Madre, que dá apoio a adolescentes grávidas. Nas filas do serviço ambulatorial do Universitário de Caracas é possível ver os resultados práticos desse problema. São dezenas, alguns dias até mais de uma centena de pessoas procurando tratamento no hospital. "Antes eu recebia de cinco a dez pacientes com suspeitas de serem HIV positivo por semana, hoje recebo o dobro disso. Por dia”, conta Landaeta. E aí, um novo problema. O hospital já não conta mais com os reagentes para fazer os exames. "Dificilmente algum venezuelano vai conseguir descobrir se tem aids no sistema público. Aqui, não há, é preciso pagar”, diz o clínico geral Davi Flora, também do Universitário. "O problema disse é que sem sabermos se o paciente tem a doença, qual sua carga viral, enfim, em que estado ele está, não conseguimos nem ao menos iniciar o tratamento”, conta. Alejandro sabe que seu tempo está acabando. Sem os remédios, não há muito o que fazer. "Meu medo é chegar a um ponto em que não há mais volta, em que meu corpo não vai mais se recuperar”, diz ele, lembrando dos colegas de ala que se foram nas últimas semanas. "Eu sempre vejo as pessoas morrendo aqui e sou muito novo, eu quero viver e eu sei que posso viver.” Nos dias mais duros de sua longa espera para debelar as infecções e conseguir, enfim, retomar o tratamento, ele se apega à Bíblia. Sua passagem preferida é Jeremias 33:6: "Eis que eu trarei a ela saúde e cura, e os sararei, e lhes manifestarei abundância de paz e de verdade”.
Yan Boechat (de Caracas)cp
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