
Por conta disso, o presidente dos EUA, Donald Trump, chegou a ameaçar subir os impostos de importação da Bombardier em 292%. No dia 25, no entanto, a Comissão de Comércio Internacional dos EUA votou por unanimidade em favor da companhia canadense, o que deve salvar milhares de empregos na Irlanda do Norte. O que eu pretendo realçar não diz respeito a essa disputa em si, por mais que seja instigante dada a importância econômica e geopolítica da fabricação de aviões.Chamo a atenção para um fato que pode ter passado despercebido por aqui: os protagonistas da contenda não foram os presidentes das empresas, nem seus respectivos departamentos jurídicos, mas os principais líderes políticos dos três países envolvidos. A luta entre Boeing e Bombardier foi, na verdade, uma importante queda de braço entre Theresa May e Justin Trudeau, de um lado, e Trump, de outro. Foram eles que usaram sua força para pressionar a Comissão de Comércio Internacional dos EUA em favor dos interesses de seus respectivos países. A história começou quando Trump, preocupado com o avanço da empresa canadense sobre o mercado da Boeing, decidiu estabelecer taxas que preservassem o mercado americano para a empresa de seu país, dificultando a entrada de aeronaves fabricadas pela concorrente. A justificativa para estabelecer a taxação? Os governos do Canadá e do Reino Unido teriam oferecido subsídios pesados para a Bombardier, de modo que não haveria livre concorrência no caso. Trump lutando pela Boeing. Trudeau, pelos interesses geopolíticos e tecnológicos do Canadá. May, pelos empregos em Belfast. Enquanto esses governos lutam com unhas e dentes pelos interesses de suas empresas estratégicas e pelo emprego qualificado de seus trabalhadores, o que o Brasil faz?

Essas são as regras do jogo geopolítico internacional. Diante delas, só há duas opções: lutar pelos interesses do país ou traí-lo, transformando-o em um quintal neoextrativista habitado por um povo pobre e sem perspectiva.
*Manuela d’Ávila é deputada estadual (PCdoB-RS) e pré-candidata do partido à Presidência da República.
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