Único senador da Rede, Randolfe Rodrigues (AP) protocolou nesta quarta-feira (14), na Justiça Federal do Distrito Federal, ação popular com pedido de liminar para afastar das funções o atual diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia. Alvo de desconfiança desde que tomou posse em novembro, por indicação da cúpula do PMDB, Segovia voltou a causar rebuliço em entrevista à Agência Reuters publicada na última sexta-feira (9), na qual afirma que as investigações sobre a acusação de propina do presidente Michel Temer devem ser arquivado por falta de provas e ausência de crime, antecipando-se à conclusão de uma apuração que ainda está em curso – há a sugestão de quebra de sigilos de Temer e outros suspeitos, segundo reportagem do jornal O Globo replicada por este site na última segunda-feira (12). A investigação é referente ao Decreto dos Portos, um instrumento presidencial que favoreceu empresas do setor. Temer e outros investigados, como o suplente de deputado pelo PMDB do Paraná e seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures, são acusado de favorecer a empresa Rodrimar, concessionário do Porto de Santos, área de influência do PMDB, em troca do pagamento de propina. O inquérito está sob responsabilidade do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal. O senador Randolfe lembra que Segovia tem se encontrado com Temer fora das respectivas agendas oficiais, estrategicamente – em uma dessas reuniões, o presidente estava a poucos dias de responder, por escrito, às perguntas formuladas pelo delegado Cleyber Malta Lopes, responsável pela investigação. Na entrevista à Reuters, acrescenta o parlamentar, o diretor-geral cogita a abertura de processo contra Cleyber, com direito a punição, apenas devido ao interrogatório encaminhado a Temer. As declarações de Segovia tiveram repercussão imediata do ministro Barroso, que intimou o delegado a se explicar e reprimiu novas declarações sobre outras investigações. Para Randolfe, o diretor-geral mostra explicitamente que está a serviço de Temer e seus aliados e atua como “advogado” do presidente. “Ao antecipar juízo valorativo sobre investigação que sequer foi finalizada, comportando-se como verdadeiro ‘advogado de defesa’ do senhor presidente da República, chegando ao despropósito de tentar intimidar o delegado que preside o inquérito em desfavor daquela Alta Autoridade, ameaçando-o de punição, o sr. Diretor-Geral inverte por completo o que dele institucionalmente se espera: blinda um investigado ilustre de suas responsabilidades e assedia um membro da instituição que tem por dever representar e zelar pelas funções”, declarou o senador.
Fator Sarney
Apadrinhado por caciques do PMDB, particularmente pelo ex-presidente José Sarney (foi superintendente da PF no Maranhão, reduto eleitoral de Sarney), o diretor-geral é visto como alguém a serviço do grupo de Temer para barrar investigações que o envolvam. Segovia tem negado a acusação e dito que seu trabalho demonstrará o que fala. No entanto, a exemplo da entrevista à Reuters, o diretor-geral dá declarações que vão ao encontro da tese levantada pela oposição – a de que ele é uma das peças da estratégia peemedebista para “estancar a sangria” de investigações como a Lava Jato. Logo em sua primeira entrevista coletiva, instantes depois de tomar posse, o diretor-geral disse que uma mala com R$ 500 mil em dinheiro – entregue secretamente a Rocha Loures depois de uma espécie de roteiro depreendido de uma conversa com Temer e Joesley Batista, um dos donos da JBS – não é suficiente como prova de corrupção.
FÁBIO GÓIS
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