
Enquanto a imprensa repercutia o que Mourão, agora na reserva, falava a respeito de seu planos políticos - entre eles o de subir, se necessário, no palanque do presidenciável de extrema direita Jair Bolsonaro -, o general reformado era elogiado pelo atual comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas. Em sua conta de Twitter, seguida por 82.000 pessoas, Villas Bôas disse ter sentido "emoção genuína" na despedida. "Todos te agradecemos amigo Mourão os exemplos de camaradagem, disciplina intelectual e liderança pelo exemplo", escreveu o numero 1 do Exército.
Villas Bôas defende mudança legal para atuação no Rio
Não foi a única sintonia entre o general que fica e o que deixa o quartel. Mourão, em conversa com os jornalistas, disse que a atual intervenção federal em curso no Rio de Janeiro, com a área de segurança sob comando de um general desde meados de fevereiro, é "meia sola". "O general Braga Netto (interventor no Rio) não tem poder político, é um cachorro acuado e não vai conseguir resolver dessa forma", disse Mourão.
O general Villas Bôas usou palavras mais suaves, mas tampouco escondeu o seu desconforto com o atual status legal da inédita intervenção, ainda na fase de planejamento embora tenha sido anunciada há 12 dias. Segundo a Folha de S. Paulo, o general, que deve em poucas semanas passar o comando do Exército a um sucessor, afirmou ser "fundamental" que os militares possam atirar em quem se desloque armado no Rio de Janeiro. O general disse que esse debate está em curso.
A chamada mudança na "regra de engajamento" vem sendo ventilada há dias pelo general da reserva Augusto Heleno, ex-comandante de tropas brasileiras e internacionais no programa chancelado pela ONU de estabilização do Haiti, onde ela foi aplicada. A alteração preocupa especialistas em direitos humanos que veem nela uma espécie de "carta branca" que abriria porta para violações. Especialistas em segurança pública também veem com apreensão a regra, já em vigor, que permite que militares que matarem alguém durante a operação sejam julgados pela Justiça Militar, e não pela civil.
Responsável pelo momento de maior protagonismo das Forças Armadas na vida política desde 1985 que inquieta militantes anti-ditadura, o presidente Michel Temer, defendeu seu movimento. "Por muito tempo as Forças Armadas se recolheram, até demasiadamente no meu modo de ver. Elas só são chamadas quando eu as convoco. Não há um desejo sequer das Forças Armadas em assumir o poder", disse em entrevista à Jovem Pan.
A reportagem é de Flávia Marreiro, publicada por El País
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