
Os jornais publicados na República Velha também passaram por maus pedaços. Logo no governo do primeiro civil, Prudente de Morais, uma turba invadiu jornais acusados de quererem a restauração da monarquia. Não havia sossego. Até 1930 vários jornais foram invadidos, jornalistas agredidos e a liberdade de imprensa que não havia no Império, também não prosperou na República. As oligarquias latifundiárias estavam atentas aos que eram contrários ao sistema implantado no Brasil. E não se podia esperar coisa melhor com a ascensão do caudilho Getúlio Vargas. A repressão ganhou contornos sistêmicos e passou a fazer parte da política do Estado Novo, a partir de 1937. A fundação do Departamento de Imprensa e Propaganda de um lado e da polícia política de outro criaram as duas pinças que se fecharam sobre as comunicações. Inspirados nas práticas nazi fascistas, as torturas, as masmorras e as ameaças garantiam ao ditador uma imprensa dócil e colaborativa. A quarta onda de ataques contra a imprensa ocorreu depois do golpe de 1964. Os veículos impressos e eletrônicos passaram a ser vigiados. Mesmo os que apoiaram o golpe sofreram censura na medida que a revolução devorava a revolução. O quadro foi o de sempre. Jornalistas presos, torturados, censores na redação e depois no telefone do chefe. Tudo mudou com a constituição de 1988 e as garantias lá enumeradas.
Houve um tempo que os jornais eram compostos com letras de chumbo. Uma vez pronto era levado aos equipamentos de impressão e daí para as ruas, os assinantes e as bancas de jornais. Os ataques contra eles visavam a redação e a gráfica. Vândalos destruíam as máquinas, e se esfalfavam em jogar os tipos móveis no chão para que se misturassem. O dano era imenso. Os tipógrafos tinham que recuperar letra por letra e muitas se perdiam. Levaria meses para reorganizá-las. Era um jogo de paciência cujo vencedor era a vontade de novamente publicar, informar as pessoas daquilo que se considerava relevante. Era um verdadeiro linchamento que visava impor o silêncio de um jornal ou uma publicação. Esse vandalismo foi chamado de empastelamento. Com o tempo designa qualquer ato de violência contra veículos de comunicação. De qualquer forma é inaceitável em uma democracia. A pretexto de denunciar os casos de violência contra as mulheres, um grupo de manifestantes, comandados pelo MST, invadiu o parque gráfico do jornal O Globo, em Duque de Caxias, região metropolitana do Rio de Janeiro. O protesto avançou para pichação de parede e portas, o que impediu o trabalho no local. Do outro lado, o MST disse que o objetivo da ação era denunciar a atuação decisiva da empresa sobre a instabilidade política brasileira. Destaca a atuação de O Globo no processo de golpe contra a presidente Dilma e a perseguição ao ex-presidente Lula para inviabilizá-lo como candidato em uma eleição democrática. É possível afirmar que a liberdade de publicar mudou com o tempo????
Heródoto Barbeiro é âncora e editor-chefe do Jornal da Record News, em múltipla plataforma.
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