
Quando se trata de Marx, nenhum superlativo parece ser grande demais. O Capital, sua principal obra, é considerada um dos livros mais influentes da história moderna, enquanto o Manifesto Comunista, umpanfleto bem menor e muito mais fácil de ler, já foi leitura obrigatória para dois terços da população mundial.
No auge do movimento socialista e comunista, na década de 1970, governos de 60 países do mundo se comprometeram com a doutrina de Marx, e milhões e milhões de pessoas em todo o planeta ligaram seu nome à esperança de um futuro melhor e mais justo, em que se poderia viver livre e dignamente.

Muito provavelmente, no entanto, Marx não foi nem profeta nem demônio, mas antes uma tela sobre a qual todos projetam a imagem que mais lhe convêm. Assim como na história dos movimentos comunista e socialista, o elemento libertador e o opressivo estiveram muitas vezes justapostos em Marx, tornando difícil perceber a transição de um para o outro. Desse modo, nem suas opulentas obras, todos conseguiam encontrar passagens que legitimassem seus atos.
E hoje, passados 200 anos do nascimento do pensador e 150 anos da publicação de O Capital, a recepção do pensador é cada vez mais aleatória. Há muito tempo seu nome e sua imagem se degeneraram, transformando-se em artigo de consumo.
A estátua de Trier é um exemplo brilhante disso. Ela é um presente da China. Foi, por assim dizer, uma oferta que a administração municipal dificilmente poderia recusar. Segundo os planos originais, a estátua deveria ter até mesmo 80 centímetros a mais. O que é uma atitude consequente considerando que o grande país no extremo Oriente é uma potência econômica com um capitalismo cujo controle e implacabilidade são difíceis de superar e que o país se autodenomina comunista e alude ao marxismo já no preâmbulo de sua Constituição.
Os chineses estão entre os principais grupos de turistas que visitam a pequena cidade de Trier, na região do rio Mosela, por ser local de nascimento de Marx. Agora, quando chegarem agora ao centro histórico através da Porta Nigra, logo vão se deparar com o pensador, apontando-lhes o caminho para a casa onde nasceu.
E se lá chegando, eles não tiverem tempo ou vontade de admirar a decoração burguesa da casa onde Marx passou a infância, poderão virar à direita logo na entrada, em direção à loja do museu. Ali estão à venda bustos menores e maiores de Marx pintados de preto ou dourado. Há também sacolas de compras impressas com o texto do Manifesto Comunista e "chocolates finos Karl Marx" em vermelho, também com caracteres chineses – uma barra de 100 gramas custa 4,95 euros (cerca de 20 reais). Em breve, também pequenas réplicas da nova estátua de Marx estarão à venda na loja.
Embora esta não seja uma frase de Marx, talvez ele tivesse concordado que "o dinheiro é que move o mundo". O pensador sabia do poder do capital.
Zoran Arbutina/cp
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