
Kuczynski, de 79 anos, justificou sua renúncia com "o clima de ingovernabilidade" que não permitiria avanços no país. O presidente deixou o cargo, no entanto, depois da divulgação de vídeos e áudios que mostram seus aliados tentando comprar votos de congressistas opositores para evitar sua destituição.
Em um vídeo gravado no Palácio do Governo no qual apareceu escoltado por todo o Executivo, o presidente denunciou a "grave distorção do processo político" causada pela divulgação de vídeos e áudios que faziam-no "injustamente parecer como culpado de atos" dos quais não tinha participado e que, por isso, "o melhor para o país é que renuncie à presidência".
O governante, que anunciou que enviou sua carta de renúncia ao Congresso, disse que "não pode ser um empecilho" para que seu país "encontre a via da unidade e da harmonia que me negaram".
"Haverá uma transição constitucionalmente ordenada", destacou, em referência ao fato de a Constituição peruana estabelecer que o cargo deve ser assumido pelo primeiro vice-presidente, Martín Vizcarra, que é embaixador peruano no Canadá.
Em sua mensagem à nação, Kuczynski disse que, desde que assumiu o poder, em 28 de julho de 2016, agiu "dando o melhor", apesar dos constantes ataques de que foi alvo "por parte da maioria legislativa", que é controlada pelo partido fujimorista Força Popular.
Kuczynski assegurou que, nos dois pedidos de destituição apresentados contra ele no Congresso, usou-se o "pretexto de que havia supostamente mentido" sobre sua vida profissional. "Inclusive, uma vez superado este transe, se tem voltado à carga com uma nova moção que tem os mesmos argumentos e contém os mesmos fatos que se rejeitaram na primeira, há apenas três meses", acrescentou.
Compra de votos
O governo de Kuczynski mergulhou na terça-feira numa crise profunda depois que a oposição fujimorista publicou vídeos e áudios, que também aprofundaram a guerra política entre os irmãos Keiko Fujimori, líder do Força Popular, e Kenji Fujimori, dissidente desse grupo e aliado de Kuczynski.
Nas gravações se vê Kenji e outros congressistas próximos oferecendo ao legislador Moisés Mamani, do Força Popular, a realização de obras públicas na sua circunscrição eleitoral em troca de que votasse contra a destituição do presidente.

Kuczynski deveria comparecer nesta quinta-feira perante o Congresso, em pessoa ou através do seu advogado, e posteriormente seria aberto um processo de debate e votação sobre a moção de destituição por "incapacidade moral permanente".
Escândalo da Odebrecht
O pedido de moção contra Kuczynski foi apresentado em 8 de março pela oposição. Trata-se da segunda moção de destituição contra o presidente aprovada para debate no Congresso em apenas três meses. Em dezembro, os parlamentares peruanos discutiram um primeiro pedido, do qual Kuczynski se salvou graças à abstenção de dez legisladores do fujimorismo.
Três dias depois, Kuczynski concedeu um indulto humanitário ao ex-presidente Alberto Fujimori, condenado a 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade. A medida levantou a suspeita de que o presidente teria feito um pacto com o parlamentar Kenji Fujimori, filho do ex-presidente, para permanecer no cargo.Kuczynski é acusado de ter recebido repasses no valor de 782 mil dólares da Odebrecht, no período em que ele ocupou os cargos de ministro da Economia e, posteriormente, de primeiro-ministro do país.
Ele insiste que o dinheiro se trata de pagamentos legítimos por serviços de consultoria e nega ter recebido propina ou cometido qualquer ato ilícito. A Odebrecht, por outro lado, admitiu ter desembolsado, desde 2001, subornos de mais de 785 milhões de dólares em 12 países – dez deles latino-americanos – para assegurar contratos de obras públicas.
Só no Peru, a construtora, que é a maior da América Latina, pagou propinas no valor de 29 milhões de dólares a funcionários do governo entre os anos de 2005 e 2014.
CN/efe/lusa/dpa/cp
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