
O vídeo de 50 segundos de duração, filmado por um amigo do agressor, mostra um ataque sexual ocorrido em meados de janeiro, ao norte de Marrakesh, segundo a mídia marroquina.
O ato só veio a público nesta quarta-feira (28/03), quando o estuprador e seu amigo publicaram o vídeo na internet, a fim de humilhar a menina de 16 anos que não cedera a suas tentativas de chantagem. Ela, por sua vez, ocultara a agressão por mais de dois meses, até mesmo da própria família.
Reações divididas
Nos últimos dois dias, o vídeo vem se difundindo rapidamente nas redes sociais, provocando indignação. No Twitter e Facebook criou-se até mesmo o hashtag #mas_você_não_tem_irmã (em tradução livre do árabe), citando uma das súplicas da vítima.
Enquanto outros atribuem a culpa às jovens, acusando-as de liberalidade excessiva.
(Tradução: Com base nas minhas observações, acho que as garotas são a razão principal desses atos: elas se maquiam e vestem roupas leves e se dão com os rapazes como se eles fossem os maridos delas. O que é que elas estão esperando, então? Que eles lhes deem um beijo na cabeça e as respeitem como suas mães?)
Estado e sociedade na berlinda
Embora o teor básico das numerosas reações é que Estado e sociedade não interferem o suficiente no combate à violência sexual, fato é que, por diversas vezes, o governo do Marrocos já reagiu à forte pressão da opinião pública após incidentes de agressão – no caso atual, os dois suspeitos já foram presos.
Quando, em 2013, o rei Mohamed 4º perdoou o pedófilo condenado Daniel Galvan Viña, os protestos na mídia social e nas ruas foram tão veementes, que ele se viu forçado a retirar o indulto e visitar as famílias das vítimas – um fato inédito na história da monarquia marroquina.

O resultado mais recente dessa onda de protestos veio em fevereiro, quando, após longos debates, o Parlamento aprovou uma nova lei que prevê penas de um mês a cinco anos de prisão e multas de até mil euros para todo ato motivado por discriminação sexual e que resulte em danos físicos, psíquicos, sexuais ou econômicos para mulheres.
"Poderosos temem uma sociedade esclarecida e crítica"
Contudo, a lei que deverá entrar em vigor em setembro próximo vem sendo alvo de críticas de organizações de direitos civis locais e internacionais, por não proporcionar às mulheres suficiente proteção durante um processo em andamento; além de não definir violência doméstica e conjugal com a clareza necessária.
A ativista e portadora do prêmio pelos direitos humanos das Nações Unidas Khadija Ryadi concorda com essa avaliação, mas para ela a raiz do mal é outra: "As reações rápidas do Estado visam, sobretudo, aplacar a ira pública. Na realidade falta vontade política para alcançar uma solução verdadeira."
Em sua opinião, não se pode combater a violência sexual apenas com penas rigorosas – se é que elas sequer chegam a ser aplicadas. Mais necessário é uma sociedade culta e esclarecida, e uma escola que leve a sério sua missão educativa.
"Mas é justamente isso o que os dirigentes impedem, desde aos anos 1980, porque têm medo de uma esfera pública crítica, culta e autoconfiante, capaz de desafiar o poder ilegítimo deles", denuncia a ex-presidente da Organização de Direitos Humanos do Marrocos.
Bachir Amroune (av)cp
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