Apenas em 2017, as Nações Unidas receberam mais de 130 queixas contra funcionários que trabalham diretamente para a organização. Ativista critica impunidade de violadores e pede medidas mais rígidas. Agências humanitárias e as Nações Unidas estão sob pressão depois das acusações de abusos sexuais alegadamente cometidos por membros das forças de paz e de funcionários ligados à ONU contra as pessoas que deveriam proteger. Em 2017, a ONU recebeu ao todo 138 queixas de abusos sexuais alegadamente cometidos por pessoas ligadas aos seus serviços. As alegações envolvem membros das missões de manutenção da paz, agências, fundos, programas e parceiros de implementação.
Paula Donovan é codiretora da campanha internacional Code Blue, que luta para acabar com a impunidade em abusos cometidos nos quadros das Nações Unidas. "A maioria das denúncias de abusos sexuais de populações que a ONU deveria proteger é contra não-militares, pessoas que trabalham diretamente para as Nações Unidas, e não os soldados enviados pelos países."Atualmente, mais de 90 mil militares estão em missões de manutenção da paz da ONU. No entanto, uma das preocupações da campanha internacional Code Blue é também punir os violadores que trabalham diretamente para as Nações Unidas.
"Quando não-militares membros das forças de paz empregados pelas Nações Unidas são acusados de crimes como esses, são tratados como se apenas tivessem 'rompido' as leis internas da ONU. São submetidos a investigações internas e eventualmente despedidos. Mas não são investigados no âmbito de processos criminais", critica Paula Donovan.
Firmeza face às acusações
O Gabão anunciou em meados de março que iria retirar as suas tropas que integram a Missão de Paz das Nações Unidas na República Centro-Africana (MINUSCA) após acusações de abusos sexuais e irregularidades. Cinco membros da força de paz estão a enfrentar testes de paternidade para crianças de quatro mulheres e uma menina, que afirmam terem sido sexualmente violadas por eles na República Democrática do Congo, entre 2014 e 2016.
O porta-voz das Nações Unidas, Stephane Dujarric, pronunciou-se na última semana sobre o caso, manifestando preocupação. "As alegações continuam a ocorrer apesar dos nossos esforços e parcerias com os Estados-membros para prevenir a exploração sexual, bem como outras formas de má conduta", disse.
"A missão e os seus parceiros no terreno são encorajados a informarem-nos para que possamos tomar medidas. Nós colocamos os direitos e a dignidade das vítimas em primeiro lugar e estamos comprometidos em acabar com a impunidade de todos os atos de abuso sexual", acrescentou o porta-voz.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, prometeu grande firmeza face às acusações contra os capacetes azuis e outros funcionários da ONU. Guterres referiu no relatório da organização que "uma pessoa que trabalha sob a bandeira das Nações Unidas não pode estar associada à exploração sexual ou a abusos", e "combater este flagelo" continua a ser uma das suas principais prioridades em 2018, "assim como ajudar e encorajar as vítimas destes atos" a denunciar os abusos.
Isaac Mugabi, Tainã Mansani/cp
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