
Desde 2017 o governo vem alardeando indicadores positivos que sinalizariam uma forte recuperação econômica. Mas a realidade teima em desmenti-lo, o que explica a alta, inédita e inarredável impopularidade, que não recua das casas dos 90%. O desemprego aberto rondando os 13%, somado ao desalento e ao subemprego, castiga mais de 26 milhões de trabalhadores e trabalhadoras. Um flagelo social, ao qual se soma o aumento substancial da pobreza extrema, revertendo o cenário criado pelos governos Lula e Dilma de redistribuição da renda em benefício das famílias mais pobres e vulneráveis.
As reformas de caráter neoliberal e descaradamente contra a classe trabalhadora e o povo estão associadas ao agravamento da crise econômica e social. O novo regime fiscal congela as perspectivas e possibilidades de desenvolvimento nacional, que não serão transformadas em realidade sem um forte aporte de recursos públicos para os investimentos em infraestrutura, saúde, educação, habitação e outras áreas. O emprego formal continua em trajetória de queda absoluta e relativa, enquanto a informalidade (emprego precário, sem carteira assinada, predominantemente) avança.
O Brasil retornou ao Mapa da Fome da ONU, do qual tinha saído durante o governo Lula. Em 2017 a pobreza extrema cresceu 11,2%, atingindo 14,83 milhões de pessoas. O golpe também está trazendo de volta o autoritarismo que muitos julgavam sepultado com o regime militar em 1985. Assistimos a um lastimável rejuvenescimento dos grupos de direita e extrema direita, uma ofensiva reacionária contra as universidades públicas, a negação do princípio constitucional da presunção de inocência, a condenação sem provas e a prisão arbitrária do ex-presidente Lula, cujo propósito maior é afastá-lo do pleito presidencial e consolidar o golpe, a criminalização das lutas sociais, o avanço inaudito da violência e da intolerância no campo e nas cidades.
Outro ponto em que o retrocesso é notável e provoca enormes prejuízos ao nosso povo relaciona-se à política externa. O Brasil virou motivo de piada e foi transformado num anão internacional em matéria de geopolítica sob a orientação tucana imprimida pelo governo golpista. A nação está novamente cultivando a hostilidade em relação ao projeto progressista de integração soberana da América Latina e Caribe, mais distante do Brics e submetida aos desígnios, consensos e ditames de Washington.
Em matéria de soberania nacional, o saldo não poderia ser pior. Temer está entregando o pré-sal ao capital estrangeiro, a base aérea de Alcântara aos EUA, promoveu uma renúncia fiscal estimada em R$ 1 trilhão em benefício das multinacionais do petróleo, quer privatizar (o que muito provavelmente significa desnacionalizar) a Eletrobras e transferir terras brasileiras a estrangeiros. O imperialismo, que inspirou a Lava Jato e instruiu o juiz Sergio Moro, foi o maior beneficiário do golpe.
Liderados por Michel Temer, os golpistas (com o respaldo da mídia burguesa, dos grandes capitalistas e do Judiciário) estão escrevendo uma página sombria e triste da história brasileira. A realidade está confirmando as denúncias, alertas e prognósticos das forças democráticas e progressistas sobre os desdobramentos do impeachment inconstitucional da presidenta Dilma, uma pessoa íntegra e honesta, que por cruel ironia foi derrubada em nome do combate à corrupção, o que faz do golpe uma farsa, pois é do conhecimento geral que através dele o Palácio do Planalto foi assaltado pelo grupo político mais corrompido de que se tem notícia em nossa história.
À classe trabalhadora e seus representantes não resta alternativa senão a da luta enérgica e sem tréguas contra o retrocesso, em defesa da democracia, da soberania nacional e dos direitos sociais, pela liberdade de Lula e o seu direito de disputar as eleições de outubro. É isto que sinalizam as centrais com a manifestação unitária convocada para Curitiba no 1º de Maio. O golpe de 2016 não terá um futuro brilhante. Mais cedo ou mais tarde esta página triste da nossa história será virada.
Umberto Martins é jornalista e assessor da CTB
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