
O que aconteceu?
No centro das discussões estão a escritora Katarina Frostenson e seu marido, o fotógrafo Jean-Claude Arnault. Ele é um dos nomes mais influentes na cena cultural da Suécia, também em decorrência de seu casamento com Frostenson, membro da Academia Sueca.
Devido a várias acusações, inclusive de corrupção, Frostenson deveria ter sido – mas não foi – excluída do órgão em uma reunião na última quinta-feira.

Além disso, descobriu-se que ela era sócia do clube de arte comercial particular do marido. A instituição recebia regularmente apoio financeiro da Academia Sueca, permitindo assim que, na prática, a escritora de 65 anos decidisse sobre doações para si mesma.
No próprio clube, também teriam sido cometidos delitos, tal como a distribuição ilegal de bebidas alcoólicas e fraude fiscal. Um escritório de advocacia a serviço da Academia Sueca chegou a propor que o clube fosse formalmente denunciado.
De assédio sexual a estupro
E como se tudo isso não fosse o bastante para desacreditar a até então prestigiosa academia do Nobel de Literatura, em novembro do ano passado, bem em meio ao debate da campanha #MeToo, também vieram à tona acusações de assédio sexual.
Dezoito mulheres afirmaram ao jornal sueco Dagens Nyheter terem sido assediadas pelo marido de Frostenson – e em um caso, até com relato de estupro. Muitos dos abusos teriam ocorrido no centro cultural de Arnault, cofinanciado pela academia, mas também em apartamentos em Estocolmo e Paris, que foram disponibilizados a ele pela Academia Sueca.
Arnault teria usado suas ligações com a instituição para pressionar as vítimas, dentre as quais estariam aspirantes a escritoras e ex-funcionárias do clube de arte. Ele nega todas as acusações.
Como a Academia Sueca lida com o caso?
Depois do escândalo, a secretária permanente da academia, Sara Danius, apontou um escritório de advocacia para investigar as alegações de obtenção de vantagens pessoais. A maioria das acusações contra Arnault, as quais perfazem um período de 21 anos, provou não ser passível de punição.
Já a questão de apropriação indevida de fundos continua sob investigação. Segundo a agência de notícias alemã DPA, conclusões são esperadas até o fim desta semana.
Na quinta-feira passada, a Academia Sueca submeteu à votação a exclusão de Frostenson. Contudo, a maioria necessária de dois terços não foi alcançada.
"Isso é extremamente lamentável, mas eu entendo a decisão", comentou Danius ao periódico Svenska Dagbladet. Ela mesma havia defendido a exclusão de Frostenson.
O que será da instituição?
Após a tentativa fracassada de excluir a escritora, Englund, Espmark e Östergren disseram ter abandonado seus assentos na academia, mas isso, na verdade, não é permitido de acordo com o estatuto da entidade. Quem é eleito para a academia adquire o status de membro vitalício e pode decidir apenas não participar das sessões.
É possível, porém, que isso mude em breve. Danius anunciou que a possibilidade de deixar um assento no futuro será revista. "Se um membro quiser deixar a academia, isso deveria ser possível."
Enquanto isso, a capacidade de atuação do importante órgão segue em risco. Caso Stridsberg ou outro membro da academia decida se afastar, a instituição deixará de ter quórum. Por outro lado, se Frostenson se retirar voluntariamente, há esperanças de que Englund, Espmark e Östergren reconsiderem sua decisão.
Juntamente com o rei sueco, Carl 16 Gustaf, Danius deve encontrar uma saída para a crise nos próximos dias. Considerado "alto protetor da academia", o rei chamou o episódio de "um triste desdobramento", mas se disse confiante de que tais problemas serão "resolvidos mais cedo ou mais tarde".
Bettina Baumann (ip)cp
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