
Macron conseguiu evitar essa impressão. Ele tampouco repetiu o erro de Obama, de traçar uma "linha vermelha" e depois não agir quando ela é ultrapassada.Permanece em aberto se essa é a maneira correta para melhorar a situação na Síria, mas claro está: o presidente da França agora posa de estadista de ação, que faz o que promete. Mas também ele vai constatar que a posição de lobo-alfa da União Europeia – sobretudo em questões de guerra e paz – logo pode se tornar terrivelmente solitária.
Na declaração dos ministros do Exterior divulgada nesta segunda-feira (16/04) leem-se muitas sugestões conhecidas: acesso humanitário, cessar-fogo, solução política. Só faltou a reivindicação de uma zona de exclusão aérea. Aí se poderia dizer que os europeus retomaram todos os tópicos que já há anos estão sobre a mesa, no conflito armado da Síria.
Mas há muito tempo já está claro: isso tudo pode soar pacifista e construtivo, mas para a população da Síria não faz a menor diferença. O Ocidente fracassou, e Macron sabe disso. Contudo, ele quer no mínimo dar a impressão de que, aqui na Europa, há alguém que tenta ao menos fazer alguma coisa, e para isso se utiliza de todos os palcos disponíveis.
Além das duas entrevistas de várias horas dos últimos dias, na terça-feira Macron fará um discurso no Parlamento Europeu sobre o futuro da UE. Dois dias mais tarde ele vai se encontrar em Berlim com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, pois não quer deixá-la de fora.
O que não é assim tão simples: o francês está tão presente, em todos os canais, que por vezes precisa se esforçar para preservar a impressão de uma estreita cooperação franco-alemã. Já foi assim durante a inusitadamente longa formação de governo em Berlim.
Porém, quando se trata de questões militares, a Alemanha já está quase automaticamente de fora. Isso vale, aliás, para a maior parte dos Estados da UE. Apesar de todos os planos de uma política interna e externa conjunta para o bloco, em termos de ataque e defesa cada país está à própria sorte. Isso ficou confirmado no pronunciamento conjunto dos ministros europeus do Exterior: o apoio aos ataques aéreos na Síria é ostensivamente contido.É a história de sempre: a França e o Reino Unido se encarregam do trabalho sujo militar, e nenhum dos demais países possui nem a vontade nem as possibilidades técnicas para executar ofensivas aéreas como as de sábado passado. Muitos podem achar isso bom, mas não é a melhor maneira de ser levado a sério no palco internacional.
Além do impulso para agir, do carisma e dos amplos poderes, o presidente francês é um dos poucos na Europa que também dispõe da potência militar para se fazer ouvir no mundo. Não há dúvida: as ações da Alemanha são de alta importância quando se trata de questões econômicas. No conflito da Síria, porém, visto de fora, o país não tem nenhuma relevância.
Tal divisão de papéis pode funcionar para a União Europeia como um todo, mas para a estrutura interna de poder, entre Paris e Berlim, ela tem consequências. Macron mostrou que leva tremendamente a sério os próprios compromissos. Lançar mísseis é bem diferente de reivindicar um ministro europeu das Finanças.
Com essa ação, Macron deixou definitivamente de lado aquela leveza juvenil que lhe valeu a vitória eleitoral em 2017. A União Europeia e o mundo veem agora um novo presidente da França: desencantado, mais sério, mais decidido; Macron, a autoridade, o comandante supremo.

Max Hofmann é diretor da sucursal da DW em Bruxelas/cp
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