
Falando à agência de notícias AFP, por sua vez, Igor Yurgens, ex-assessor-chefe do primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, foi na mesma linha: "Estamos numa situação que me lembra a crise no Caribe dos anos 1960, quando [o líder soviético Nikita] Khrushchev e [o então presidente americano John F.] Kennedy estavam à beira de um conflito nuclear."Especialistas duvidam

Segundo certos especialistas, contudo, a atual disputa na Síria é bem diferente. "Havia muito mais em jogo naquela época", alega Ivan Tomofeyev, do Conselho Russo de Relações Exteriores, em Moscou. "Os EUA viram o estacionamento de mísseis nucleares soviéticos como uma ameaça a sua existência, e havia uma clara confrontação ideológica", disse, referindo-se à estratégia americana de conter a URSS, a fim de prevenir a difusão do comunismo.
Em 1962, além disso, ambos os lados estavam dispostos a arriscar uma guerra para forçar o outro a ceder, lembra o professor Bernd Greiner, da Universidade de Hamburgo. Forças soviéticas abateram um avião-espião dos EUA, e o piloto foi morto, enquanto Washington iniciou preparativos para lançar bombas nucleares sobre o país inimigo. "A Síria, em contrapartida, é uma crise, mas não uma disputa que vá levar os dois lados à beira de uma guerra mundial."Perigo das más interpretações
Outra diferença-chave entre 1962 e 2018 são os alvos dos EUA, aponta Steven Pifer, especialista do think tank Brookings Institution. Na Guerra Fria, os americanos planejavam atingir forças soviéticas em Cuba, o que causaria as mortes de centenas de soldados. Atualmente, por outro lado, o país tentaria evitar as forças russas, se realizasse um ataque com mísseis contra alvos do governo sírio.
Contudo, mesmo que uma ofensiva dos americanos contra a Síria matasse acidentalmente russos em terra, Moscou não retaliaria com armas atômicas. "Minha suposição é que as Forças Armadas russas têm uma avaliação bastante exata do que isso acarretaria", tranquiliza Pifer.
Embora o emprego de armas nucleares seja improvável, Tomofeyev admite que, caso soldados russos fossem atingidos, um bombardeio americano contra a Síria poderia desencadear um conflito militar direto com Moscou.
"Mortes russas podem fazer a situação escalar, ao ponto de a Rússia atacar aeronaves ou embarcações da Marinha americana." No fim das contas, "o maior risco são as interpretações erradas das intenções" do outro lado.
Alexander Pearson (av)cp
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