
O protesto, no entanto, encontrou obstáculos devido aos efetivos da Polícia Nacional, que desde o ponto de partida montaram barricadas com as suas viaturas, impedindo que os manifestantes avançassem. Entretanto, os jovens continuaram com a marcha, até que a manifestação foi reprimida nas imediações do Comité Provincial do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), a poucos metros do Largo da Independência.
Naquele espaço, a DW África constatou os polícias a soltarem os seus cães contra os manifestantes. Manuel Ramalhete, homem de 59 anos, disse à reportagem que é um dos sobreviventes do 27 de maio. O senhor participou da manifestação deste domingo e foi agredido fisicamente.

"A polícia é do povo não é do MPLA" foi uma das palavras de ordem que se ouvia enquanto a manifestação era brutalmente reprimida. Para o estudante Augusto Madureira, ao invés de reprimir, a polícia deve proteger os cidadãos.

Por seu turno o ativista David Salei atribui a responsabilidade da repressão ao Presidente angolano. "Vimos o comportamento da governação de João Lourenço. Ele torna-se nesse momento a terceira máscara por ordenar a repressão da nossa manifestação. É uma manifestação pacifica, não viemos com nenhum objetos contundentes", disse o ativista sobre a manifestação, a primeira em alusão ao 27 de maio, desde que João Lourenço assumiu o cargo de Presidente da República.
"Fracionistas"
No dia 27 de maio de 1977 houve manifestações em Luanda a favor de Nito Alves, na altura ministro da Administração Interna e membro do Comité Central do partido no Governo, o MPLA. Após esta data, os apoiantes de Nito Alves, os chamados "fracionistas", foram acusados de tentar um golpe de Estado e passaram a ser perseguidos pelo próprio partido, que na altura era liderado por Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola.
A manifestação deste domingo foi convocada para um dia sensível em Angola, já que se cumprem hoje 41 anos sobre o 27 de maio de 1977. Segundo vários relatos, milhares terão morrido naquele dia e seguintes na resposta do regime angolano contra a alegada tentativa de golpe de Estado. A Amnistia Internacional estimou em cerca de 30 mil as vítimas mortais na repressão que se seguiu contra os chamados "fracionistas".
Borralho Ndomba (Luanda), Agência Lusa/Caminho Político
Nenhum comentário:
Postar um comentário