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quarta-feira, 18 de julho de 2018

"''O Evangelho viaja nos navios dos migrantes.'' Artigo de Corrado Lorefice"

18_07_laurin_schimid_sos_mediterranee.jpg“A lógica do ‘primeiro nós’ mostra, nesta Europa, toda a sua falácia. Corremos o risco de rupturas irreconciliáveis, justamente porque todos os países europeus começam a consideram que o seu bem-estar vem em primeiro lugar, sem entender que, se a casa comum for destruída, todos ficaremos ao ar livre, sem um teto. É a miopia do egoísmo político.” Publicamos uma síntese do “Discurso à Cidade”, proferido por Dom Corrado Lorefice, arcebispo metropolitano de Palermo, Itália, na noite de domingo, 15 de julho, na Festa de Santa Rosália.

Eis o texto.
Há uma imagem típica da festa de Santa Rosália que me parece iluminadora. É a imagem do navio, da embarcação que carregamos pelas nossas ruas e que nos recorda a salvação do flagelo da peste graças a um rosto, que apareceu a uma mulher simples, em um momento terrível na vida da nossa cidade. A embarcação é uma só, mas tem três formas.
1. O primeiro navio em que penso, a primeira forma da embarcação é a da nossa cidade. O mar está perenemente agitado, e nos sentimos como os discípulos no barco surpreendidos pela tempestade durante a travessia para a outra margem, enquanto Jesus está lá tranquilamente em um cantinho, dormindo (cfr. Mc 4, 35-41). É isso mesmo. Temos medo. Estamos angustiados. E Deus dorme, Deus parece ausente, distante. E, mesmo que o desafiemos, como fez Pedro no barco agitado pelas ondas, vendo Jesus caminhar sobre a água, depois nos sentimos afundar em meio às ondas, e o medo prevalece. O Evangelho não nega o medo. Não é um livro para super-homens.
"O medo e a pobreza criam desconfiança, isolamento, fratura. Essa deveria ser a tarefa da política, das nossas paróquias: romper o isolamento, escutar o grito, contar a dor, a dificuldade de viver, e dar-lhe sentido - Corrado Lorefice"
É verdade, estamos assustados aqui, nesta nossa pátria maravilhosa, porque falta trabalho, dramaticamente e, às vezes, tragicamente; porque os nossos jovens perdem a esperança e se sentem forçados a partir, privando-nos da sua presença, da sua juventude forte e criativa; porque nas nossas periferias cresce o desconforto, aumentam os pobres. O jugo da máfia e de todas as máfias constrange o nosso território, penetra nas nossas casas, polui a vida social, infiltra-se na política, até mesmo em alguns ambientes eclesiásticos, com uma arrogância que nos deixa atônitos. Olhemos na cara do medo, porque o verdadeiro grande perigo não é o medo, mas sim a raiva, a resignação, a evasão.
É o 25º aniversário da morte do Pe. Pino Puglisi. O Pe. Pino dizia que “é tempo de arregaçar as mangas”, de passar “das palavras aos fatos”, de fazer uma proposta diferente da “cultura da ilegalidade” promovida pelos mafiosos, de adotar um novo “estilo de vida”. E Libero Grassi, que morreu como ele pelas mãos da máfia, como testemunha humilde e forte da verdade, recordava que não é a quantidade de consenso eleitoral que faz a democracia: não somos pessoas da polis, homens “políticos” fortes somente quando recebemos muitos votos nas eleições. O que importa – dizia Grassi – é a qualidade do consenso: ou seja, a sua liberdade, a sua convicção, o fato de ser fruto de uma escolha e de um pensamento. Por isso morreram os mártires palermitamos da máfia, por isso morreu Piersanti Mattarella, a quem eu gostaria de recordar com afeto e gratidão.
Acima de tudo, dirijo-me aos jovens e às jovens: quem os ajuda, na verdade, não é o político que lhes promete favores, o padre que lhes aconselha, o poderoso que lhes pede em troca o sacrifício da liberdade de vocês, não é aqueles que dizem que resolverão de modo simplista e sumário os problemas de vocês! Quem os ajuda é qualquer pessoa que lhes lembre da beleza de ser jovens, qualquer pessoa que tenha respeito e confiança em vocês, qualquer pessoa que esteja disposta a dar um passo atrás para lhes dar espaço, qualquer pessoa que renove em vocês a força de estar junto, a esperança de encontrar caminhos novos, a alegria de viver paixões não tristes, mas vibrantes, por serem feitas de participação e de dom. Quem lhes dá uma mão são aqueles que lhes dizem que um mundo diferente é possível e que a brecha entre aqueles que têm e aqueles que não têm, pode ser anulada por um pensamento de autêntica partilha.
"Abrimos mão dessa tarefa: a política abre mão dela [...]; a Igreja abre mão dela, quando reduz a fé a uma devoção individual, quando não investe toda a vida e não se faz fonte de autêntica comunidade - Corrado Lorefice"
2. O segundo navio. Sim, juntos, no porto. Esta é uma palavra que também vale para a embarcação da nossa Itália. O medo e a pobreza, se não escutados, se não interpretados e captados, criam desconfiança, isolamento, desilusão, fratura. Essa deveria ser a tarefa da política, da escola, das nossas paróquias: romper o isolamento, escutar o grito, contar a dor, a dificuldade de viver, e dar-lhe sentido. Hoje, muitas vezes, abrimos mão dessa tarefa: a política abre mão dela, ao usar o desconforto e não se encarregar dele; a Igreja abre mão dela, quando reduz a fé a uma devoção individual, quando não investe toda a vida e não se faz fonte de autêntica comunidade.
Uma ilusão perigosa está se difundindo: que o fechamento, o fato de estar compactados, a contraposição ao outro são uma solução, são a solução. Mas uma civilização que se baseia no “mors tua, vita mea”, uma civilização em que seja normal que alguém viva porque outro morre, é uma civilização que se dirige ao fim. É isso que queremos? O padroeiro da nossa Itália, Francisco de Assis, a quem queremos olhar a partir da nossa embarcação, propunha e defendia a fraternitas. Para Francisco, no Cristo irmão, tornam-se irmãos tanto o leproso exilado para fora da cidade, quanto o vizinho de casa, o próximo mais próximo. Irmãos diferentes, mas irmãos. Comecemos de novo a partir daí, da palavra e do exemplo do padroeiro da Itália, Francisco de Assis. Não é por nada que o atual bispo de Roma, o Santo Padre Francisco, escolheu esse nome como programa do seu pontificado.
3. O terceiro navio. É a mensagem que devemos levar também ao navio da Europa, o navio que abrange a todos nós em virtude de uma genial intuição dos nossos pais. A lógica do “primeiro nós” mostra, nesta Europa, toda a sua falácia. Corremos o risco de rupturas irreconciliáveis, justamente porque todos os países europeus começam a consideram que o seu bem-estar vem em primeiro lugar, sem entender que, se a casa comum for destruída, todos ficaremos ao ar livre, sem um teto. É a miopia do egoísmo político, defendido por governantes e por políticos europeus que muitas vezes se orgulham – sobretudo no Oriente – de construir regimes sem garantias e fora dos limites mínimos da democracia.
"Uma civilização que se baseia no “mors tua, vita mea”, uma civilização em que seja normal que alguém viva porque outro morre, é uma civilização que se dirige ao fim. É isso que queremos? - Corrado Lorefice"
Diante de tudo isso, a Igreja não pode ficar em silêncio, eu não posso ficar em silêncio. Porque a Igreja não tem alternativas. Ela foi colocada pelo seu Senhor ao lado dos pobres e dos rejeitados da história, e todas as vezes que saiu – e quantas vezes isso aconteceu – desse lugar para ficar ao lado dos fortes, dos ricos, dos poderosos, ela perdeu o próprio sentido do seu ser. Como jovem pai constituinte, um dos sonhadores da Europa e do mundo unido, Giorgio La Pira fazia das “expectativas da pobre gente” o seu farol e o seu guia contra toda exaltação do mercado sem regras, do individualismo econômico. Hoje, La Pira nos convidaria a olhar para os muitos navios que dirigem a sua proa para a Europa como para navios da esperança. A esperança da pobre gente que busca proteção e vida boa, mas, acima de tudo, a nossa esperança. Porque, se paramos os navios dos pobres, se fecharmos os portos, estamos desesperados. Desesperamos da nossa humanidade, desesperamos da nossa vontade de viver, do nosso desejo de comunhão.
A Europa é a civilização da contaminação. Geograficamente, ela não existe. O Mediterrâneo é o seu berço. Paulo VI, já santo, dizia que a Eucaristia contém a forma vitae dos povos. A mesma coisa de que Bento de Núrsia, padroeiro da Europa, estava convencido: “Bento de Núrsia – declarou Bento XVI –, com a sua vida e as suas obras, exerceu um impulso fundamental no desenvolvimento da civilização e da cultura europeias”. O Evangelho revela o seu DNA quanto se torna forma vitae, quanto se torna uma carta dos direitos que garante a defesa dos últimos. Não é uma questão de acolhida, não se trata de sermos bons, mas de sermos justos. Não de fazer boas obras, mas de respeitar e, se necessário, repensar o direito dos povos.
É em nome do Evangelho que cada homem e cada mulher tem direito à vida e à felicidade, porque “não há mais judeu nem grego, não há mais escravo nem livre em Cristo Jesus” (Gl 3, 28), porque o nosso Senhor, morrendo na cruz, derrubou – diz Paulo ainda – todo muro de separação entre os homens. Essa é a forma de vida na qual o Evangelho deve se encarnar para não perder a sua concretude histórica. Essa é a “forma” do Evangelho que deve se tornar substância viva e que, justamente na Itália, ela se tornou isso, há 70 anos, nos princípios fundamentais da nossa Constituição.
"A aposta de uma nova civilização é: uma civilização em que nenhuma criança seja educada a ver no diferente um inimigo, em que os governantes tenham a paixão pelos últimos e pelo respeito da vida, de toda a vida - Corrado Lorefice"
Aquilo que os pais haviam intuído hoje deve se tornar o nosso manifesto, a nossa carta fundadora de cidadãos e de cristãos. Giuseppe Dossetti, em 21 de novembro de 1946, propôs à Assembleia Constituinte que escrevesse assim na Constituição da República: “A resistência individual e coletiva aos atos dos poderes públicos que violem as liberdades fundamentais os e direitos garantidos pela presente Constituição é direito e dever de todo cidadão”. Retomando a sua inspiração, levantemos a nossa voz para que se escreva finalmente o artigo 3 da Constituição Europeia, o artigo do direito de cada pessoa a ser igual, a ser membro da cidade dos homens, a ser livre para viver e para estar no mundo, com dignidade e orgulho.
Escrevamos esse artigo, desde agora, nas nossas vidas e nos nossos atos cotidianos, e peçamos que, em vez da miopia dos pequenos direitos exclusivos, reservados a poucos, que preparam um futuro de dor e de guerra, escreva-se o grande direito da paz e do bem para todos, o único direito que tem a forma do Evangelho. O tema que se quis dar à Festa deste ano – “Palermo Bambina” [Palermo Menina] – nos orienta para que possamos olhar a cidade dos homens a partir dos menores, isto é, das crianças. E essa é a aposta de uma nova civilização: uma civilização em que nenhuma criança seja educada a ver no diferente um inimigo, uma civilização em que os governantes tenham a paixão pelos últimos e pelo respeito da vida, de toda a vida, uma civilização em que cada pessoa aprenda, ao término da sua jornada, da sua existência, a escutar a voz que vem de longe, a voz do coração, que clama: Adão, tu, homem, diga-me onde está o teu irmão.
O artigo foi publicado em Avvenire e Caminho Político. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

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