
O resultado dessas condições são campanhas milionárias. Aliás, bilionárias, em alguns casos, como o da reeleição de Dilma em 2014. Agora, na tentativa de botar ordem no galinheiro, estabeleceu-se um teto de gastos para as próximas eleições presidenciais. Sabe de quanto? Setenta milhões de reais. Tu acreditas que esse teto vai ser respeitado? Nem eu. Na minha terra, a gente diz que esse dinheiro não dá nem pra comprar uma mariola. E sabe o que vai acontecer? Tudo. E dentro desse “tudo”, com certeza, o Brasil vai testemunhar, nem que eles escondam muito bem, a maior canalhice do caixa dois da história.
A triangulação e o crescimento do laranjal
Ao mesmo tempo, a legislação, que já era frouxa, afrouxou ainda mais ao permitir que os candidatos (se) façam doações de valor ilimitado, desde que usem recursos próprios. Paralelamente, proibiram-se doações de empresas e foi liberada a doação de pessoas físicas em até 10 por cento do salário.
Aqui nos corredores do Congresso, já ouvi comentários curiosos a respeito. Um deles é o de que um candidato bem relacionado com empresas pode pedir a elas que façam depósitos em contas de pessoas físicas, recursos esses que seriam posteriormente repassados em forma de doação à campanha do candidato. Pronto: triangulou-se a distribuição do dinheiro, mantendo-se a doação de pessoas jurídicas, só que por outras vias. E o laranjal só crescendo. Lembre-se, a propósito, das eleições de 2016, quando o laranjal floresceu com o surgimento de milhares de CPFs-laranja, de gente que já morreu, ou de pessoas que recebiam verbas de programas sociais, do Bolsa Família e do escambau. Detalhe: se no tempo das doações das pessoas jurídicas qualquer cidadão entrava no site da Justiça Eleitoral e sabia que empresa tinha doado para qual candidato, saber agora quem doou pra quem tornou-se praticamente impossível.
Y así pasan los dias
Em meio a tudo isso, com o protagonismo das bancadas evangélicas, que vêm ocupando cada vez mais espaço no espectro político-partidário, já se espera que o rico dinheiro do dízimo escorra, generoso, de dentro das igrejas rumo às campanhas dos candidatos abençoados com o manto da beatitude. Basta o pastor mandar um acólito entregar o dinheiro aos irmãos reunidos na Casa de Deus, com a recomendação de que doem a santa grana ao irmão-candidato fulano de tal. Está resolvida a questão. Um detalhe, irmãozinho: dinheiro de dízimo é dinheiro limpo, não é caixa dois... A expectativa é de que a bancada evangélica pelo menos dobre de tamanho. Talvez triplique.
Paulo José Cunha é professor, jornalista e escritor.
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