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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

“A esquerda deve pensar o republicanismo do futuro”. Entrevista com Mark Lilla"

abstract_voal_pixabay.jpgPara o historiador das ideias, a esquerda tomou um caminho errado ao se engajar demais nas questões de identidade. Se ela quiser derrotar a direita no poder, deve redescobrir a solidariedade. Mark Lilla considera-se um intelectual de esquerda, mas é mais conhecido por sua crítica feroz ao Partido Democrata, que ele avalia ao mesmo tempo como muito neoliberal em questões econômicas e identitário em questões sociais. Seu último livro, La Gauche identitaire. L’Amérique en miettes [A esquerda identitária.
A América aos pedaços] (Stock), foi mal recebido por outros intelectuais de esquerda, em alguns círculos LGBT e pelo movimento “Black Lives Matter”. Mark Lilla nasceu em 1956. Ele é professor da Universidade Columbia em Nova York. Seu último livro, La Gauche identitarie. L’Amérique en miettes (Stock), publicado em francês neste outono, teve grande sucesso editorial.
Eis a entrevista.
O presidente Trump é uma fonte de conflitos tanto a nível nacional como internacional. A sociedade americana parece cada vez mais dividida e o debate político mais violento do que nunca. Você diria que há uma crise moral?
Podemos dizer que há uma crise moral cívica. Esta é uma consequência direta da presidência de Donald Trump. Ele quebrou todos os tabus para nos proteger de nós mesmos na democracia. Antes dele, estava bem claro que não se ataca a pessoa de um candidato. Nem se usa palavras vulgares em um debate sério. Não se pede a prisão de seu adversário. Mas Trump quebrou persistentemente essas regras.
Não havia, evidentemente, leis nesta área, mas isso era compreensível. No entanto, desde que um tabu desse tipo é quebrado, é muito difícil colocar os quadros de volta ao debate político. Para compreender isso, pensemos nos tabus sexuais que foram quebrados na década de 1970. Agora percebemos que é muito difícil reintroduzi-los novamente. De fato, eles são transmitidos de geração em geração de maneira tácita. Atualmente, no nível político, é o Partido Republicano que se recusa a respeitar as regras em matéria de moral cívica. Tudo é culpa da direita.
Em contrapartida, a esquerda americana está muito interessada nas minorias, mas ainda parece se incapaz de entender as categorias populares. Seu aburguesamento não é também um problema moral?
A esquerda americana claramente não está à altura dos desafios. Ela renunciou ao seu papel tradicional de defender a classe trabalhadora em geral. Eu diria mesmo que ela defende mal as minorias, mesmo que muitas vezes sofram injustiças sérias. Em meu livro, falo principalmente sobre a renúncia da esquerda ao seu papel que era oferecer uma visão de conjunto da nossa sociedade, no presente e no futuro.
O cerne do problema é o fato de que os líderes democratas são burgueses, como você sugere. São advogados, professores universitários, como eu, médicos, etc. Por um lado, eles perderam o contato com a classe trabalhadora no centro geográfico e ideológico do país. Por outro lado, decidiram liderar uma revolução cultural à Hollywood, na mídia e nas universidades, para mudar os hábitos dos americanos. É um verdadeiro símbolo: a esquerda tomou Hollywood, mas a direita tomou Washington. Os americanos certamente se tornaram mais tolerantes nos costumes, mas agora há cada vez mais regras para o que pode ser dito. O politicamente correto levou a um clima um pouco stalinista.
O que a esquerda precisa entender naqueles que não votam mais nela?
A batalha ideológica travada nos Estados Unidos força as pessoas a colocarem o foco no seu grupo identitário. Atualmente, os negros e os brancos se veem cada vez mais como concorrentes. Para sair dessa armadilha identitária, precisamos de uma visão com princípios que possam ser aplicados a todos os casos. Se o Partido Democrata se concentrasse no princípio da igualdade perante a lei e a importância primordial da solidariedade cívica, poderíamos desenvolver simultaneamente políticas para os negros e para a classe trabalhadora branca.
Em primeiro lugar, se priorizássemos os princípios da solidariedade, brancos e negros teriam a impressão de que o Partido Democrata está lutando por eles ao mesmo tempo. E poderíamos também abordar seriamente todos os problemas muito reais das minorias. Mas – e é isso que é importante –, definiríamos os problemas com um vocabulário republicano. Um vocabulário que perdemos. E é ainda mais importante que os republicanos não acreditam mais na solidariedade. Eles são explicitamente contra o princípio.
Quando Donald Trump lançou o mote “Make America Great Again”, inspirando-se em Ronald Reagan, ele se dirigia a todos os americanos, certo?
Não, na verdade não. Trump fez saber quem era a “verdadeira” nação, neste caso os brancos, e quem não era, a saber, as minorias. E ele nunca falou de solidariedade. Outro problema com Trump é que ele não tem pensamento político. Não vale a pena citar uma frase sua e fingir que existe um pensamento coerente por trás dela.
O presidente Ronald Reagan, que era muito popular na década de 1980, introduziu uma era política, muito liberal, que agora está chegando ao fim, na sua opinião...
Sim, percebo que há duas eras na política americana do século XX. Em um determinado período, os valores democratas e da solidariedade eram encarnados primeiro por Roosevelt nos anos 1930 e também por Kennedy nos anos 1960. Eles eram aceitos pela grande maioria. Até os republicanos tiveram que promover sua política social! Depois, veio a exceção Reagan, no início dos anos 80. O que parecia uma exceção, ou uma derrogação, economicamente liberal, então se transformou em algo inflexível e cego.
Após vinte anos, ficou óbvio que não era suficiente. O mesmo aconteceu com a exceção Roosevelt. É assim que funciona em uma democracia. As ideias mudam. As premissas de base mudam. É como com os iogurtes: eles têm data de validade. Jimmy Carter, presidente democrata entre 1977 e 1981, tentou falar com o vocabulário de Roosevelt, mas não funcionou mais.
E Bill Clinton, de 1993 a 2000, tinha que ser um presidente democrata em uma realidade reaganiana. Ele mudou os programas do Estado de bem-estar nas questões relativas ao trabalho e à seguridade social. Reduziu os impostos. Chegou, inclusive, a falar sobre problemas culturais nos guetos negros. Era bem conservador, na verdade. É por isso que a esquerda tradicional o atacou. Ele queria ser um presidente de terceiro tipo, como Tony Blair. Ele queria encontrar uma terceira via. Na realidade, Clinton era de esquerda, culturalmente falando, inclusive de coração. Mas ele compreendeu muito bem seu momento histórico.
De Clinton para cá, a esquerda é neoliberal no nível econômico e identitária no nível cultural. Na direita, nós temos neoliberais em termos econômicos, mas conservadores no nível cultural. Os dois partidos compartilham, portanto, o neoliberalismo. Este é o momento para questioná-los, não com emoções, mas com ideias.
No entanto, Bernie Sanders, o senador “socialista” de Vermont, não é um neoliberal...
Suas ideias são as da década de 1930. Ele não quer admitir que a economia globalizada existe e que existirá para sempre. Fazemos política com a economia que temos, não com a economia que esperamos ter. É claro que devemos tentar limitar os efeitos negativos da economia global. Precisamos de tratados com outros países para repatriar o capital dos paraísos fiscais. Nós também podemos tentar restringir as bolsas de valores. Evidentemente, devemos investir muito mais na educação e na formação profissional. É um trabalho político e de administração pública que levará anos. Mas não podemos esperar compreender a nossa situação com ideias fixas.
De onde vem essa loucura “identitária” que tomou conta das universidades americanas? E de onde vêm movimentos radicais como o “Black Lives Matter”?
Depois do fracasso da esquerda radical para derrubar o capitalismo e o imperialismo nas décadas de 1960 e 1970, ela se voltou sobre si mesma. Acima de tudo, ela se retirou para as universidades com, na cabeça, a ideia de que, se pudesse mudar a atitude das elites na sociedade, poderia mudar a sociedade. Para essa geração, um universitário era na verdade alguém que tinha um papel político. Ao mesmo tempo, em todos os lugares do mundo ocidental, houve um aumento do individualismo cultural. O que Tom Wolfe chamou nos anos 1970 de “a década do eu” ou o “the me-decade”.
Por isso, o campo de batalha mudou: passamos do campo econômico para a política dos grupos minoritários. Última etapa: da “política identitária”, que evocava os grupos em função dos direitos fundamentais, passamos para o reconhecimento social dos indivíduos de acordo com sua “identidade”. Um exemplo: se sou uma mulher judia, de esquerda, lésbica, tenho minhas próprias ideias, que não necessariamente têm relação com as de uma mulher judia, de esquerda, mas heterossexual. Assim, partículas elementares explodiram, que não voltam a se juntar.
Os jovens que entram na universidade sentem que estão lá para serem politizados, especialmente sobre questões de identidade e sua identidade mesmo como estudantes. Tornou-se uma maneira de se descobrir, de se colocar a pergunta pelo “eu” e de se sentir engajado politicamente. Assim, a famosa pergunta da esquerda “O que fazer?” foi substituída pela “Quem sou eu?” A consciência identitária substituiu a consciência política entre os jovens.
Você escreve em seu livro que o novo grande líder do Partido Democrata, que poderia ganhar uma eleição presidencial, é esperado um pouco como o Messias... Você vê alguém em particular?
Não, mas é preciso sempre se preparar para o Messias, senão ele não vem! (Risos). Mais seriamente, penso que os democratas devem se preparar intelectual e ideologicamente para isso. Precisamos de jovens democratas que tenham convicções republicanas. Toda uma tradição política e intelectual da era Roosevelt foi derrotada. Nós não podemos recuar no tempo. Barack Obama desistiu das questões do Partido. Ele poderia ter trabalhado na sua reconstrução fazendo avançar o republicanismo. Ele não fez isso.
O mote, durante as primeiras campanhas, era: “Sim, nós podemos” (“Yes We Can”). Mas o que podemos fazer? Da mesma forma, após os ataques racistas seguidas de mortes em Ferguson, ele disse: “Isso não somos nós”. Mas ele não disse quem nós éramos... Quem somos nós? Ele tinha certa relutância em dizer que nós somos todos americanos, que nós temos deveres comuns e que precisamos nos ajudar mutuamente. Devemos, portanto, pensar o republicanismo do futuro, especialmente as ideias econômicas. Enquanto a sociedade se tornou muito individualista, deveríamos aprender a falar de deveres cívicos. Este será o trabalho duro de uma geração.
A entrevista é de Henrik Lindell, publicada por La Vie e Caminho Político. A tradução é de André Langer.

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