A personalidade controversa de um baiano mestiço que se envolveu na Conjuração Baiana de 1798, negociou africanos escravizados, acolheu os malês expulsos do Brasil em 1835 e protegeu ex-escravos e seus descendentes retornados à África. Uma história incrível que revela aspectos do tráfico negreiro pouco mencionados nos livros de História. Francisco Félix de Souza, o Chachá, chegou a ser considerado, no seu tempo, o homem mais rico e influente da África Ocidental. Agente exclusivo do rei de Daomé, ele tinha uma habilidade incomum para intermediar o comércio escravo entre chefes africanos e traficantes europeus. Casou-se com algumas dezenas de mulheres que geraram quase uma centena de filhos, somente entre os legítimos. Seu sobrenome, Souza, deu origem a um clã africano que goza ainda hoje de prestígio em Benin e Togo.
Primeiros tempos, no Brasil
As fontes sobre Francisco Félix de Souza são escassas, fragmentárias e desiguais especialmente referentes aos primeiros anos quando viveu no Brasil. A documentação pessoal é praticamente inexistente, inclusive de seus negócios, já que ele preferia os acertos verbais aos escritos. Para rastrear sua vida é preciso combinar dados recolhidos dos arquivos da Marinha britânica com as tradições orais de Ajudá. Os resultados são, contudo, conflitantes, especialmente quanto às datas e ordenação cronológica. Ele é tido geralmente como nascido em Salvador, Bahia, em 1754, conforme consta em seu túmulo, mas o ano pode ter sido posterior. Outras fontes afirmam ser natural do Rio do Janeiro e há, também quem afirme ser de Cuba, o que parece improvável. Era filho de português traficante de escravos e de mãe índia do Amazonas que podia ser também uma cabocla ou cafuza. Costa e Silva o descreve como mulato claro ou “mestiço indefinido”. Segundo Robin Law, historiador inglês especialista em História Africana, Francisco Félix de Souza se envolveu na Conjuração Baiana, de 1798. Ainda jovem, com vinte e poucos anos, ele foi para o reino de Daomé (atualmente território da República do Benin) para traficar escravos. Ali teria ficado entre os anos 1792 e 1795 onde ergueu um entreposto de escravos chamado Ajido. Regressou depois ao Brasil.
Joelza Ester Domingues
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