
"O nível do rio está baixo. A gente acreditava, de alguma forma, que a lama não desceria tanto. Mas estávamos errados”, confessa Ribeiro. "O que vimos é que o rio está complemente morto em todo esse trecho".
Às margens do Paraopeba, um dos principais afluentes do São Francisco, moradores correm para afastar os animais de criação do rio e se perguntam como vão sobreviver sem aquela água. Na aldeia Naô Xohã, em São Joaquim de Bicas, os indígenas pataxó não sabem como vão se adaptar .
Apesar da situação crítica, Ribeiro afirma que ainda não se pode decretar a morte completa do Paraopeba. "Esse corpo d'água não tem condições de se recuperar sozinho, mas há metodologias que podem ajudar”, comenta.
Uma opção seria extrair os sedimentos de rejeitos nas margens com dragas e inserir plantas aquáticas, que podem atuar como filtros naturais. A técnica, por outro lado, exige cuidado extremo. O alto teor de fosfato e fertilizantes agrícolas - já presentes no rio -, uma vez misturados aos rejeitos, podem provocar o crescimento descontrolado das plantas e "sufocar” o Paraopeba.
Até que um processo de revitalização comece, a sobrevivência nas águas será difícil. "Muitas espécies vão migrar para regiões saudáveis. E as que não conseguirem, não vão encontrar alimento para a subsistência a longo prazo", afirma Tiago Silva, biólogo da SOS Mata Atlântica.
Além da água, amostras de solo estão sendo coletadas. As análises serão feitas no laboratório da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (Uscs), e os resultados devem ficar prontos na próxima semana.Contaminação no rio Doce
Três anos depois do rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, Vale e BHP, em Mariana, os 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos que vazaram ainda causam impacto. Parte desse volume seguiu pelo rio Doce até desaguar no Atlântico, deixando um rastro de mais de 500 quilômetros.
Uma pesquisa da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) publicada na Science of the Total Environment no fim de 2018 concluiu que a mistura que escorreu pelos rios favorece a multiplicação de bactérias perigosas para a saúde humana.

No Espírito Santo, o defensor público Rafael Portella acumula vários relatos de pessoas que apresentaram problemas de saúde depois do contato com o Doce. No litoral do estado, as queixas também vêm de surfistas.
"Eles nos relataram que não conseguem ficar muito tempo na água pois sentem enjoo, dor de cabeça, problemas de estômago. Dizem também que, depois da catástrofe em Mariana, o relógio de pulso fica com uma camada lustrosa quando saem do mar”, diz Portella sobre reuniões com atingidos.
A Defensoria Pública mantém a população no entorno do Doce em alerta. "Ainda não temos respostas categóricas que atestem a segurança alimentar e hídrica do Doce. Em muitos pontos, a pesca continua proibida”, lamenta Portella.
Nádia Pontes (de São Paulo), Marina Costa (de Pará de Minas)Caminho Político
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