"Mas apesar destes exemplos a favor da educação universal e de qualidade, o Brasil das primeiras décadas do século XX continuava um país majoritariamente de analfabetos e com pouquíssimas chances de educação para as mulheres", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate e Caminho Político.
Eis o artigo.
Os pensadores iluministas do século XVIII sonharam com uma educação de massa e de qualidade para todos os cidadãos e cidadãs do mundo. Nos primórdios da Revolução Francesa, o filósofo, matemático e revolucionário francês, Marquês de Condorcet (1743-1794), foi pioneiro na defesa da cidadania feminina. No dia 03 de julho de 1790 (um ano depois da Queda da Bastilha) Condorcet publicou o texto “Sobre a admissão do direito de cidadania às mulheres” (ver link na referência abaixo) onde defende igualdade de direitos e a presença cidadã das mulheres em todas as áreas de atuação da República.Em 1792, a pioneira feminista Mary Wollstonecraft (mãe de Mary Shelley), publicou o livro “Reivindicação dos Direitos da Mulher”, onde ecoa a defesa da cidadania feminina feita por Condorcet e enfatiza a necessidade da educação de massa para a formação das mulheres e para o rompimento da situação de submissão e inferioridade feminina em relação aos poderes masculinos. A feminista brasileira Nísia Floresta (1810-1885), foi uma seguidora de Mary Wollstonecraft e uma lutadora em favor da educação das mulheres brasileiras, ainda no século XIX.

O fato é que o hiato de gênero (gender gap) foi superado e, em sequência, foi revertido como mostram Beltrão e Alves (2009). No ensino fundamental, no ensino secundário e na graduação do ensino superior as mulheres superaram os níveis educacionais dos homens antes do final do século XX. No plano internacional, a redução do hiato de gênero e o maior acesso das mulheres à educação foram objetivos prioritários da IV Conferência Mundial das Mulheres, em Beijing, no ano de 1995, dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM) em Nova Iorque, 2000, assim fazem parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e da agenda global pós-2015 da ONU.
Mas na pós-graduação, a reversão do hiato de gênero no Brasil só ocorreu na primeira década do século XXI. Como mostra o gráfico acima, a percentagem de mulheres concluintes do mestrado ultrapassou 50% na virada do milênio e os anos 2000 começaram com mais mulheres concluindo o mestrado em relação aos homens. E esta diferença se ampliou nos anos seguintes com aumento da vantagem feminina. No doutorado, a paridade de gênero foi atingida por volta de 2007 e a partir de 2008 a percentagem de mulheres concluintes do doutorado ultrapassou a percentagem masculina. E da mesma forma, que nos graus anteriores, a diferença em favor das mulheres está se ampliando.

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