
Com Bolsonaro, o país está mais polarizado, mas sem agenda executiva clara. Falta a visão de um Brasil para além do combate à corrupção e ao déficit fiscal, importante para o país, mas não suficiente. É preciso ter prioridades claras. Dar à educação o destaque que merece. Abandonar discursos de polarização. Trabalhar com um Congresso que é fruto da mesma renovação que colocou Bolsonaro no poder.
O sistema político brasileiro se viciou em corrupção, com evidentes exceções. Candidaturas alicerçadas em dinheiro sujo. Maiorias parlamentares construídas mediante fisiologia ou distribuição aberta de recursos de origem espúria. Apropriação criminosa do Estado quase como uma regra.
As operações policiais, com destaque para a Lava Jato, deixaram esse sistema exposto e criaram o clima que afastou alguns dos políticos comprometidos e viabilizou a maior renovação da história do Parlamento e a eleição de um outsider, Jair Bolsonaro.
As eleições mostraram que o Brasil não aceita mais o velho esquema corrupto, mas não criaram automaticamente uma nova forma de relacionamento entre Executivo, Legislativo e a sociedade. Ainda restam muitos representantes do sistema antigo, que lutam pela sua manutenção, e vários dos novos atores políticos, inclusive o presidente da República, não assimilaram até o momento a dimensão da força e da responsabilidade de suas atuais funções. As soluções devem necessariamente ser construídas dentro do ambiente democrático e de respeito mútuo. Fora disso, só temos a barbárie, o autoritarismo e a violência. O Brasil não precisa e não merece uma nova ditadura, seja de esquerda ou direita. Ditadura nunca mais!
O país tem problemas graves , e não há respostas simples. Mas temos bons princípios que indicam o caminho a seguir. O primeiro deles é o indispensável respeito aos eleitores, cujos votos legitimam os eleitos, gostemos deles ou não. O segundo, da alçada do presidente Bolsonaro, é a necessidade de desarmar os espíritos e buscar o diálogo franco com todos os parlamentares. O terceiro ponto, de responsabilidade do Congresso, está em produzir a legislação demandada pela sociedade.
No século XXI, as democracias não correm risco entre tanques e soldados, mas na ponta de uma Bic, com extinção de conselhos participativos, por exemplo, ou em manobras parlamentares que ocultam achaques. É no desrespeito às regras do jogo que vão se corroendo liberdades e direitos. O Brasil precisa ter mais clareza do valor das normas democráticas e firmeza para repudiar populismo e autoritarismo com a mesma veemência com que repudiou a corrupção nas urnas.
Jânio não conversava diretamente, mandava bilhetes e nunca conseguiu descer do palanque. Deixo aqui meu pedido ao presidente e aos colegas parlamentares e também meu apelo aos brasileiros: aprendamos com os erros da História. Menos tuítes, mais conversa, menos campanha, mais governo.
Alessandro Vieira é senador da República (Cidadania-SE
Nenhum comentário:
Postar um comentário