
Strache, líder do ultradireitista Partido da Liberdade (FPÖ), renunciou ao cargo neste sábado depois de a imprensa alemã ter revelado um vídeo em que ele aparece oferecendo futuros contratos governamentais a uma suposta magnata russa em troca de apoio ao seu partido nas últimas eleições parlamentares, em 2017.
O político reconheceu que a gravação, feita em julho de 2017 com uma câmera escondida na ilha espanhola de Ibiza, é "catastrófico", mas negou ter infringido a lei.
Kurz – um conservador cujo Partido Popular Austríaco (ÖVP) formou uma coalizão de governo com o FPÖ há um ano e meio – afirmou que o escândalo envolvendo Strache foi a gota d'água no relacionamento entre os dois partidos.
"Após o vídeo de ontem, preciso dizer honestamente que basta", declarou o chanceler federal, listando uma série de outros escândalos menores que provocaram tensões entre as legendas desde o início da coalizão.
Kurz chamou o conteúdo da gravação de "desprezível". "Mais graves e sérias são as ideias de abuso de poder, de negociar o dinheiro dos contribuintes austríacos e, é claro, do entendimento sobre o panorama da imprensa em nosso país", afirmou o líder.
"Com esse comportamento, o FPÖ está prejudicando o projeto de reforma e o caminho de mudança. Também está denegrindo a imagem do nosso país", acrescentou.
Antes do anúncio de Kurz e após a renúncia de Strache à liderança do partido e ao cargo de vice-chanceler federal, milhares de pessoas se reuniram em frente à chancelaria austríaca em Viena para exigir eleições antecipadas e denunciar a extrema direita.
A polícia afirmou que entre 2 mil e 3 mil pessoas participaram da manifestação na praça Ballhausplatz, no centro da capital austríaca.O escândalo
As imagens reveladas pela imprensa alemã mostram um encontro entre o vice-chanceler e uma mulher da Rússia, suposta sobrinha de um oligarca russo, que diz estar interessada em investir grandes quantidades de dinheiro na Áustria.
Segundo a revista Spiegel, ela falou em doar 250 milhões de euros e sugeriu várias vezes que o dinheiro teria sido obtido de maneira ilegal.
"No entanto, Strache e Gudenus permaneceram na reunião por cerca de seis horas e discutiram sobre oportunidades de investimento na Áustria", escreve a revista alemã. "O encontro foi obviamente organizado como uma armadilha para os políticos do FPÖ."
Os veículos afirmam que, na reunião, Strache disse à mulher que ela obteria lucrativos contratos de construção na Áustria se ela comprasse um jornal austríaco e declarasse apoio ao seu partido nas eleições parlamentares daquele ano.
A russa teria sugerido comprar um pacote significativo de ações do diário Kronen Zeitung para apoiar a campanha do nacionalista FPÖ – que após as eleições acabaria formando uma coalizão com o conservador ÖVP, de Kurz, e entrando no governo.
"Se ela assumir o Kronen Zeitung três semanas antes das eleições e nos trouxer o primeiro lugar, então podemos conversar sobre qualquer coisa", teria dito Strache na gravação.
Esta não é a primeira vez que o governo de Kurz tem de lidar com acusações contra seus membros ultranacionalistas. Desde o início da coalizão entre ÖVP e FPÖ, no final de 2017, vieram à tona escândalos e incidentes quase semanais, geralmente relacionados com declarações antissemitas ou relações com grupos neonazistas.
A polêmica mais recente ocorreu no final de abril, quando um político do FPÖ escreveu um poema discriminatório em que comparou imigrantes a ratos. O texto publicado num folheto da legenda provocou críticas generalizadas e deixou irritado o chanceler federal.
O poema intitulado "O rato urbano" foi impresso numa publicação local do partido nacionalista em Braunau am Inn, cidade localizada na fronteira com a Alemanha e famosa por ser o local de nascimento de Adolf Hitler. O texto escrito pelo vice-prefeito de Braunau am Inn, Christian Schilcher, advertia contra imigrantes e a mistura de culturas.
EK/afp/ap/dpa/rtr/cp
Nenhum comentário:
Postar um comentário