Deputados e técnicos do IBGE também criticaram a diminuição do número de perguntas no questionário do Censo 2020 e alertaram para os riscos de mudar a coleta de dados.Críticas de deputados e de técnicos aos cortes no orçamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e à diminuição do número de perguntas do questionário para o Censo 2020, deram o tom da comemoração dos 83 anos do instituto na Câmara dos Deputados. A sessão solene em homenagem ao órgão revelou a preocupação dos parlamentares com a realização do próximo censo e com as consequências das mudanças na coleta de dados.
Três audiências públicas nas comissões permanentes da Câmara foram realizadas recentemente sobre o assunto. Na sessão solene, deputados como Nelson Pellegrino (PT-BA) declararam que estão lutando para recompor o Orçamento do IBGE.
Pellegrino salientou que os dados são essenciais para o planejamento da administração pública. "Essa redução de 32% do questionário, descendo de 102 questões para 76, pela audiência pública que nós fizemos aqui, essa redução pode comprometer a qualidade e o próprio Censo 2020”, denunciou.
O deputado disse ainda que no momento de homenagear o IBGE, o melhor a fazer é dar as condições para que o órgão possa fazer o Censo 2020. “Com a mesma qualidade que foi feita em 2010 e todos os censos no Brasil”, completou.
Sem ideologia
O deputado Chico D´Angelo (PDT-RJ), que propôs a homenagem, lembrou que o IBGE é o maior banco de dados da América Latina, mas que vem sofrendo ataques do governo federal. Ele ressaltou, no entanto, que a defesa da instituição não está ligada a fatores partidários ou ideológicos.
"Os setores liberais, os empresários brasileiros precisam ter a compreensão da importância da defesa do IBGE, até porque para se fazer investimentos em municípios e estados, é muito importante se ter o diagnóstico da realidade socioeconômica de cada região do Brasil".
Credibilidade
Técnicos do IBGE presentes à sessão solene destacaram a credibilidade das pesquisas. Eles declararam que o corte no número de perguntas do questionário do Censo 2020 terá impacto financeiro pequeno. Também reclamaram que as prioridades do Orçamento do órgão não são transparentes para os funcionários.
Davi Wu Tai, representante da presidência do IBGE, reconheceu as dificuldades orçamentárias, que, segundo ele, atrasaram a contratação de pessoal para o Censo 2020. Em relação à diminuição do questionário, ele informou que a direção do órgão está empenhada para que os quesitos cortados sejam recuperados por meio de dados de outras fontes, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a PNAD.
Dificuldades
O diretor de informática do IBGE também relatou outros problemas que podem afetar o Censo 2020. Um deles é a recusa da população em responder aos recenseadores. Outro é a taxa de moradores que não são encontrados nos domicílios. Nos censos anteriores, estes obstáculos correspondiam a no máximo 10% das visitas, mas em uma pesquisa-piloto feita em fevereiro, o percentual chegou a 54%. Outro entrave é a coleta de dados via internet, porque o índice de respostas devolvidas não chega a 1%.
"Nossa primeira preocupação é de que maneira nós podemos abordar todos os domicílios do País, que são mais de 70 milhões segundo as nossas estimativas, para conseguir fazer um censo que realmente retrate, de maneira cabal, qual é a população de cada recanto desse País. Nós estamos nos esforçando para achar maneiras alternativas de como abordar a população brasileira"
Durante a sessão solene, o deputado Marcelo Calero (Cidadania-RJ) informou que protocolou um requerimento de informações (RIC 658/19) para que o ministro da Economia, Paulo Guedes, apresente formalmente as justificativas para os cortes orçamentários no IBGE.
Reportagem – Cláudio Ferreira
Edição – Geórgia Morae
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